Por Clara Days:
Ideias-chave: regular ou recomeçar; entre a ordem e a renovação; estabilidade desafiada por renovação profunda.
Continuamos a ser impelidos para direcções contraditórias, entre o desejo de estabilidade e a necessidade de mudança, agora influenciados por diferentes dinâmicas, com novas características. O Imperador é o mais estável entre os estáveis, enquanto que a Morte nos anuncia um fim indispensável, para que haja um recomeço. Como gerir?
Estar sob a influência do Imperador implica sempre um apelo à regra, à ordem e à lei. Ele é regulador e pai, governa os grupos para os proteger e comandar. Quando somos o Imperador, precisamos de previsibilidade, de sentir que temos a situação sob controle. Quadrado, dominador, este Arcano Maior 4 está focado na vida social e em todo o tipo de interacções que esta implica – parece o patrono ideal para a rentrée de Setembro, tempo de voltar ao ritmo “normal” do trabalho na maioria dos países do hemisfério Norte.
Mas a Morte vem a acompanhá-lo, e quando ela passa não deixa ninguém indiferente. Com este Arcano Maior 13 vem a mais radical das mudanças, queiramos ou não: o que aqui se pede é o largar dos velhos fardos, para dar lugar à a novidade que vem a caminho. O novo e o velho não cabem no mesmo espaço, diz-nos a Morte.
Há, pois, neste final de Agosto que culmina com a Lua Cheia de dia 30, um apelo simultâneo à regra e à renovação, que precisamos de saber articular. É como se nos seja pedido que mantenhamos balizada e sob controle uma mudança aparentemente radical que precisamos de fazer. Eu poria ainda a coisa nos seguintes termos: o Imperador define-nos um território de vida, aquela a que chamamos de “social”, e assim nos situa em relação aos aspectos que estarão em destaque nesta transição profunda, necessária, a que a Morte nos obriga.
Mas há outra maneira de interpretar e que é mais simples, ou mesmo simplista, que dita que andaremos em conflito interno permanente, porque uma parte de nós quer estabilidade e outra mudança. Quem não estiver seguro de si sentir-se-á no meio deste campo de batalha, acho eu. Se oscilarmos entre o que há de mais básico nestes arcanos, opondo a regra sem explicações à desconstrução sem horizontes, seremos engolidos pela vertigem do combate: um frente-a-frente imaturo, entre Imperador e Morte, é uma contradição difícil de resolver, e dificilmente poderemos usar as energias de carácter positivo de cada um deles.
Atenção, portanto: jogamos na esfera da nossa vida pública e social, e nesse jogo há mudanças profundas que parecem inevitáveis, mas que podem ser a base para uma reconstrução da nossa vida. Se conseguirmos gerir controladamente tudo aquilo que temos que deitar fora, para ganhar novo espaço e novo alento num futuro renovado, ganhamos a partida.
Imagem : Anima Mundi Tarot, de Megan Wyredeweden, 2017

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