Por Clara Days:
Ideias-chave: ultrapasso avançando; partida com perdão; desapego e redenção.
Decididamente, estamos em movimento, e capazes de deixar para trás muita coisa, que apenas importou no passado. Essa relação com o passado revela-se agora mais inspirada e redentora, o que nos pode permitir ultrapassar obstáculos internos que nos bloqueavam.
Vejamos então:
A presença do Carro traz sempre consigo o desejo de pôr a vida em movimento, um impulso que é pessoal, independente. Esta Arcano Sete, correspondendo ao Princípio do Desapego, simboliza a etapa de vida em que cortamos definitivamente o cordão umbilical com as origens e partimos em busca do nosso caminho, em busca de quem somos.
Lembro que o condutor do Carro é antes de tudo um guerreiro, ele comanda as rédeas do seu destino armado e couraçado, protegido do sofrimento que possa vir de fora, enquanto escolhe, a cada encruzilhada da vida, aquele que lhe parece o melhor caminho para prosseguir. Quando deixou para trás a sua terra natal, guardou as mágoas na memória profunda e por isso está tão vigilante, receoso de encontrar no seu trajecto pessoas ou situações que o voltem a magoar.
Mas desta vez vem com o Julgamento, ou Eão, Arcano Vinte, que corresponde a um estado de consciência mais complexo e elevado, onde a relação entre presente e passado é trabalhada no sentido da procura da redenção, que permita uma verdadeira ressurreição. Com o Julgamento, estou em condições de me analisar e de perdoar os pecados com que aprendi, ultrapassando a autocrítica mesquinha que me faça sentir inferior ou diminuído. A energia deste Arcano empodera-nos para sermos capazes de nos mostrar exigentes e determinados, o que dá ao condutor do Carro uma força que o empurra com ainda mais convicção para o seu caminho.
Só com o Carro, não temos ainda uma meta, pois ele representa sobretudo a capacidade de ir decidindo ao longo do caminho. Acompanhados do Eão, damos à viagem um novo e mais profundo significado, pois estamos perante a possibilidade de um renascimento.
Não tenhamos então medo de partir, de cortar amarras com o lugar onde tenhamos estado e, se necessário, fazê-lo a sós, sem mais amparo que o da nossa própria vontade. Associemos a este impulso a capacidade de nos perdoarmos, de recolhermos os ensinamentos que os erros que cometemos trouxeram, sem auto-recriminação.
Na semana passada, estivemos em contacto com o nosso ser natural, para nos abrirmos ao mundo. Agora, torna-se mais importante aquilo que somos capazes de fazer, e isso passa por nos pormos em movimento, por nos decidirmos a escolher caminho e seguir por nossa conta. Contemos com o apoio da nossa consciência e orientemo-la para nos redimir e ajudar a renascer.
Imagem: The Ellis Deck, de Taylor Ellis, 2013

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