Por Clara Days:
Ideias-chave: ruptura e desapego; fatalidade e escolha; saio da minha zona de conforto, sigo em frente.
De novo, mas numa diferente combinação, as energias da Torre e do Carro. Ao optimismo de há duas semanas atrás seguiu-se a contenção da semana passada, para agora sermos convidados a prosseguir com a nossa vida e a tomar decisões, sempre enfrentando a desconstrução imparável com que parecemos estar obrigados a lidar.
A Torre domina os acontecimentos, assim parece. Retirando-nos à força da nossa zona de conforto, desconstrói as nossas certezas, desarruma o que pensávamos ter sob controle e força-nos a vir a céu aberto, confrontados com horizontes mais largos, que pretendíamos ignorar. Passada que foi a etapa do Dependurado, em que fomos forçados a assistir e reflectir, é chegada a hora de partir e assumir as nossas decisões em novo caminho. A vantagem de viajarmos com o Carro é que somos capazes de desapegar: com voluntarismo e independência, ainda que transportando dentro alguma mágoa, escolhemos seguir a nossa rota, mesmo sem destino definido.
Ai atiraram-me da Torre abaixo? Pois eu monto no Carro e vou-me embora, sem olhar para trás, embrulhado na minha armadura. Este seria o prosaico resumo do que as cartas desta semana retratam.
Um e outro, Carro e Torre, retiram-nos do que foi zona de conforto. A diferença está em que, se a Torre o faz independentemente da nossa vontade e forçando-nos a lidar com uma súbita disrupção, o Carro toma em mãos a partida e faz dela uma escolha assumida. Convenhamos, é uma diferença substancial. O que representará, quando as energias destes dois Arcanos Maiores vêm associadas?
Eu diria que estamos postos perante situações de mudança, mais ou menos voluntárias, e que temos a possibilidade de as tornar em factor de progresso, se tomarmos as rédeas do que podemos decidir. Da Torre, retiro sobretudo a oportunidade de desbravar novos horizontes, sem me focar tanto no que perdi – essa a grande ajuda do Carro. Mas, ao perceber a interferência da energia disruptiva da Torre, dá para acreditar que entre o que me foi destruído estaria também parte daquilo que eu amava e que agora tenho de escolher deixar para trás. A Torre cria as condições externas que forçam o Carro a decidir-se, facilitando-lhe, de certa maneira, a tarefa de se desligar.
Claro que não vou em branco, carrego comigo memórias que me fazem procurar estar defendido de contactos externos. O condutor do Carro é um solitário, não tanto porque goste de o ser, mas porque perdeu a confiança nos outros. Seguirá, de encruzilhada em encruzilhada, de decisão em decisão, até encontrar um rumo concreto e um objectivo. Talvez ganhe de novo vontade de ter companhia, com o passar do tempo…
Sigamos então assim nós, também.
Imagem Mystic Mondays Tarot, de Grace Duong, 2018

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