Por Clara Days:
Ideias-chave: sensação, sentimento e obrigação; entre o ser, o estar e o seguir; intuição e sonho perante a tradição.
O que pesa mais na minha vida? Quem eu verdadeiramente sou, na minha essência, medos e sonhos, ou o que me prende aos outros? Por que me devo guiar? Pela força irracional da intuição ou pela crença e pela tradição? Estes os dilemas que me assolam hoje, em que a aliança da Imperatriz com a Lua se vê perante o peso do Hierofante.
A Imperatriz corresponde ao lado “feminino” e físico de cada um de nós, de acordo com as definições clássicas: maternal, geradora de vida e protectora dos fracos e da natureza. Ela é Vénus, é Gaia, é Mãe-Terra. Compreende a vida sem precisar de palavras para a explicar, em harmonia com o corpo e de acordo com as sensações.
Já a Lua vai mais pelo lado psicológico, ela é a força do subconsciente, que subjaz no nosso espírito e governa os medos e os anseios que não sabemos exprimir. Rege os recantos sombrios da alma, que procura iluminar, manifestando-se nos sonhos com que o nosso cérebro nos quer ajudar a resolver a vida.
Uma e outra, Imperatriz e Lua, são essencialmente irracionais e pessoais. A intervenção generosa da Imperatriz como cuidadora dos outros vem-lhe da sua própria natureza, não é uma escolha racional. A Lua, por seu lado, influencia-nos por dentro, não por fora. Aliadas. Acordam-nos para o corpo e para o espírito, num conjunto que tem tudo par ser harmonioso e coerente.
Já o Hierofante joga noutro tabuleiro, completamente diverso. Ele representa a força da crença e o peso da tradição, é o mestre iluminado que dita as regras de conduta para a comunidade que segue um sistema ideológico. Por muito que consideremos “espiritual” a sua fé, a influência concreta que nos traz surge de fora para dentro, de cima para baixo. É racional, é uma escolha, que aceitamos ou não como imposição. Perante a influência do Hierofante, eu reconheço as concessões pessoais que devo fazer para me integrar.
Volto então ao princípio do texto: por que me devo guiar? Pela força irracional da intuição, potenciada pela presença simultânea da Imperatriz e da Lua, ou pela crença e pela tradição, que me obrigam a prescindir do que sou para me enquadrar? Em menor ou maior escala, acredito que este tipo de dilema nos convoque a todos, durante os próximos dias.
Não há respostas certas, claro. Nem erradas, também… Cada um sente de modo mais ou menos intenso o apelo mudo do corpo e da alma, para que aja de acordo com a sua verdade íntima, cada um sentirá também a seu modo a necessidade de se integrar no grupo a que pertence e de agir de acordo com o que esse grupo lhe exige ou impõe. Digamos que isto são opções de todos os dias, mas que agora nos aparecem exacerbadas. Deixemos o fiel da balança pender o mais de acordo connosco possível, digo eu…
Uma boa semana para todos.
Imagem : 5 Cents Tarot, de Madam Clara, 2021

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