Por Clara Days:
Ideias-chave: entre a ordem e a transgressão; definindo limites à liberdade; ter de ajustar os impulsos às regras.
Ninguém procura mais a ordem do que o Imperador. Ninguém defende mais a liberdade a todo o preço do que o Diabo. Como vamos gerir estes dias, se precisamos de viver entre as regras de um e os impulsos irreprimíveis do outro?
Continuamos, portanto, na senda dos dilemas morais e práticos que nos têm sido colocados ao longo das semanas mais recentes. Desta vez, claramente, temos o confronto entre os interesses primários e absolutos do individual e as imposições sociais do colectivo.
Para o Imperador, paternal gestor da causa pública, o Diabo personifica tudo o que abomina na natureza humana: a insolência, a rebeldia, a cedência às pulsões que transgridem todas as regras e põem em causa a sua autoridade.
Pelo contrário, para o Diabo, os princípios que o Imperador representa são o preço que não está disposto a pagar para viver a sua vida. Ele, Diabo, assume as suas acções e sujeita-se às consequências, apenas na medida em que está disposto ao isolamento a que elas o podem conduzir, mas não aceita os limites que um qualquer Imperador lhe queira impor. Para começar, ele questiona em absoluto a sua autoridade…
Temos então, dum lado, um agente da ordem: o politicamente correcto, o conveniente, o socialmente aceitável, parâmetros que sejam o garante da continuidade e da estabilidade. Do outro, um libertário que lhe desvaloriza totalmente a autoridade. Mas não é só um confronto de ideias, é uma questão prática, porque ambos os arcanos correspondem a arquétipos que são actores, intervenientes, proactivos. Onde ficamos nós, no meio destas forças tão contrárias?
É preciso muita maturidade, para ser capaz de não desvalorizar o poder do Imperador, nem tomar por maligno o Diabo. Facilmente as coisas se podem extremar, na presença destes dois. Valha-nos, então, o poder moderador do Arcano Maior 8 (ou 11), Justiça ou Ajustamento, que tem a filosofia de nos fazer aceitar as circunstâncias como elas são e, em consonância, nos gerirmos de acordo com elas. Mais do que ponderação e equilíbrio, ele propõe uma abordagem realística da vida.
Segundo este prisma, eu proponho então que pensemos não em Imperador contra Diabo, mas nos dois em paridade, como contemporâneos consentâneos, ainda que não parceiros. Estou com o Imperador e com o Diabo. Tenho regras a cumprir, mas outras não… e procuro ler essa diferença na realidade crua das minhas circunstâncias.
Seguirei o Imperador no que for mais certo, ou conveniente. Deixarei o Diabo à solta de igual maneira, no entanto… e, como diz o povo, o que tiver que ser, será.
Imagem : Anima Mundi Tarot, de Megan Wyredeweden, 2017

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