Por Clara Days:
Ideias-chave: atracção, reviravolta e visão; compromisso emocional em ponto de viragem; perspectivar o futuro aceitando a mudança e respeitando o afecto.
A semana da última Lua Nova de 2023 oferece-nos um tempo de mudança com características particulares: confrontados com as voltas do destino e da vida, teremos a capacidade de pôr as coisas em perspectiva e fazer escolhas que se baseiam naquilo ou naqueles em que apostamos afectivamente.
Vejamos então: a carta que aqui mais personifica a mudança é, desta vez, a Roda da Fortuna, que define a evolução dos tempos em modo de avanço e recuo, ou ascenção e queda, alternando-se sucessiva e incontrolavelmente. Mas a ideia de “karma” ajuda a dar uma leitura mais moderna e menos determinista da carta, que se refere ao Princípio Universal do Movimento e da Expansão. Mostra-nos ela assim um mundo a abrir permanentemente oportunidades e possibilidades, e é no desafio de aceitá-las ou não e de como interagimos com elas que podemos crescer, resgatar e definir o nosso próprio destino.
Tudo isto vem desta vez reforçado com a presença do Mundo, ou Universo, o último dos Arcanos Maiores numerados, que nos sugere a capacidade de olharmos para trás e para a frente da nossa vida com uma visão de síntese que nos ajuda a retirar as lições e resumir os propósitos. A sua presença admite sempre um tempo de balanço e decisão, é um símbolo de realização pessoal. Pode representar a culminação de um empreendimento, a realização final e concreta de um projecto, mas abre também a porta para o devir, para a transição de uma etapa de vida para outra.
Ora, como é bom de ver, Roda e Mundo associados dão-nos, simultaneamente, a oportunidade e a visão, se soubermos bem usá-los. Quero então introduzir aqui os Enamorados, Arcano Seis, que no reconhecimento da alteridade e na posição de atracção afectiva emprestam ao momento a dimensão pessoal: as escolhas a fazer serão tanto melhores se forem por amor, no sentido mais nobre e lato deste termo. Com os Enamorados, eu evoco o Princípio da Polaridade, em que aceito que os opostos se atraem porque se complementam, em que afirmo que cada um encontra a sua realização naquilo que o preenche e completa, mas que está fora de si.
Visto de outra maneira, reparemos: nesta última Lua Cheia do ano, temos a acompanhar-nos três Arcanos de pontos muito díspares da sequência que define a Jornada do Louco peregrino pelas 21 cartas de numeração romana. O primeiro, os Enamorados, integra o primeiro septenário, que representa o processo de criar a sua própria estrutura pessoal, mental, emocional e corporal. A Roda da Fortuna pertence ao segundo septenário, uma etapa mais avançada na tomada de consciência que representa a construção de uma identidade em relação com o mundo, o que Jung designa como “O reino da consciência do Ego e da realidade terrestre. Já o Mundo, ou Universo, é a última carta do terceiro septenário, que na terminologia do mesmo autor representará “O reino da iluminação e da auto-realização”, mais consciente ainda, transpessoal e transcendente.
Preparemo-nos então para uns dias de possível mudança de direcção, com uma visão de síntese produtiva, mas respeitadores daquilo a que estamos afectivamente vinculados.
Imagem: The Field Tarot, de Hannah E. Fofana, 2020

Deixe um comentário