Por Clara Days:
Ideias-chave: instinto e auto-conhecimento; auto-domínio e introspecção; impulso e razão com foco em si mesmo.
Na continuação das energias de paragem que a semana passada nos trouxe, a combinação sui-generis do Eremita com a Força / Entusiasmo obriga-nos a reflectir sobre o valor e significado das nossas reacções instintivas. É-nos agora pedido que domemos os nossos impulsos e exerçamos o auto-conhecimento, numa atitude de contenção consciente.
Enquanto que o Eremita é racional, severo e solitário, numa busca permanente de melhor se conhecer e compreender, a Força obriga-nos a trabalhar relação entre o que nos é espontâneo e natural e o comportamento que devemos assumir e mostrar. Mais do que energias contraditórias, pode-se dizer que lidamos com dinâmicas complementares: a postura focada, auto-centrada e paciente do Eremita reforça na nossa Força a dimensão de “domesticação” do animal selvagem que mora em cada um de nós, diminuindo o lado “entusiasta” que também a caracteriza.
Ao Eremita corresponde, em astrologia, a energia de Virgem, enquanto que a Força / Entusiasmo está relacionada com o signo de Leão. Isto, só por si, dá um belo debate sobre aspectos possíveis entre estes dois tipos de influências. Mas voltemos aos Arcanos do Tarot.
Com o Eremita, há lentidão e método. Para tanto, o exercício de auto-disciplina que a Força exerce sobre os nossos impulsos naturais torna-se mais intenso. O auto-conhecimento que nos é proposto pelo Arcano Nove é um processo de busca sistemático, feito em isolamento e absolutamente racional. O lado da racionalidade é a ponta que o aproxima da dinâmica da Força, pois é pelo exercício consciente e focado da razão que esta opera, reconhecendo e moderando o nosso comportamento instintivo.
Eu diria que, se conseguirmos usar bem o método de auto-análise que nos dá o Eremita, poderemos trabalhar melhor a disciplina auto-imposta que nos pede a Força. Isto implica considerar sempre a reacção instintiva como um ponto de partida que deve ser compreendido e não reprimido. E em que medida é que a moderação pode não ser uma forma de repressão, pergunta-se? Será esse o verdadeiro exercício: compreender as verdadeiras razões que estão por trás das respostas espontâneas e naturais que temos aos acontecimentos implica reconhecer que esses comportamentos têm uma origem de defesa primária, que deve ser atendida e integrada na nossa reacção aos ditos acontecimentos.
Com o método racional da auto-análise, considerando os impulsos que nos assolam como sinais, ou sintomas (passe a expressão) das nossas verdadeiras preocupações e interesses, temos uma visão mais verdadeira e compreensiva de quem somos, do que nos aflige ou motiva. E assim podemos passar uma semana de aprendizagem e apaziguamento, na companhia do Eremita e da Força.
Imagem : Mary El Tarot, de Marie White, 2019 (2ª ed.)

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