Por Clara Days:
Ideias-chave: confiança, destruição e perdão; disponível para tudo, enfrento os destroços do passado e absolvo-me das culpas; espontaneidade, libertação e renovação.
Ainda não recuperados do abanão que a Torre nos provocou ou provoca, já a energia sempre confiante do Louco é convocada para se avaliar e se poder reconstruir. Somos o Louco, entre os destroços do que foi e a esperança do que pode vir a ser. Explico:
A Torre volta, como na semana passada, para lembrar que na vida nada está estável, que tudo é precário e pouco temos a que nos agarrar. Certezas ou ilusões caem por aí abaixo, fulminadas pela suprema razão que escapa ao nosso controle. Adeus, zona de conforto, adeus vida arrumadinha… Mais do que um “salve-se quem puder”, é um momento de verdade com que somos forçados a lidar, que nos é imposto pela imprevisibilidade das circunstâncias.
Mas, desta vez, a presença do Louco acorda em nós o que temos de mais verdadeiro e espontâneo. Assim, perante a destruição, somos capazes de encontrar um optimismo resistente, que nos capacita para ver coisas boas e soluções mesmo onde pareça mais improvável. O Louco pode assustar-se, mas recupera do susto sem problemas de maior. Inveterado aventureiro, dispõe-se a prosseguir caminho, em direcção aos novos horizontes que se abrem para lá dos destroços.
O Louco é temerário por natureza, ou tem talvez a sabedoria despojada de quem já viu de tudo e sabe que a tudo é possível sobreviver. Não tem lastros, não traz bagagem, mas agora tem o Julgamento a chamá-lo a lidar com o que passou, não apenas a seguir em frente. Para o Julgamento, avaliar o passado tem uma função redentora, não necessariamente punitiva, há uma intenção de encontrar sentido nos erros, ou deles retirar lições. É mais um momento de verdade, este com uma dimensão espiritual.
Agora o triângulo está desenhado: Louco, Torre, Julgamento. O Louco é o protagonista, a Torre o desenrolar incontrolável dos acontecimentos perturbadores, o Julgamento a capacidade de sublimar a “maldade” do que acontece para encontrar redenção. Temos a confiança incurável que, perante a destruição, procura o sentido que lhe permita renovar-se e almejar um futuro mais nobre.
Eis a lição destas cartas para hoje:
É preciso coragem para ser Louco, pelo seu despojamento. A vida tenta fazer de nós pessoas “crescidas”, cheias de preconceitos para simplificar a compreensão do mundo e de rotinas para lidar com o dia a dia. Situações de ruptura (a Torre Fulminada…) desconstroem tudo isso e, se queremos resistir, temos de reencontrar a nossa pureza inicial. Mas ainda podemos ir mais longe, se formos capazes, pois está ao nosso alcance encontrar os porquês e absolvermo-nos de culpas, projectando-nos para o futuro à luz do passado. Que cada um possa encontrar o seu caminho…
Uma boa semana para todos!
Imagem : Meraki Tarot (2ª edição), de Natalie Meraki, 2022

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