Por Clara Days:
Ideias-chave: pertença e imparcialidade; moral e responsabilidade; aceito a regra, ajusto-me às circunstâncias.
Esta semana tudo pede que me arrume melhor no lugar a que pertenço. O efeito combinado dos ditames do sumo sacerdote, guardião da moral e da ideologia, com a necessidade de permanente reajuste ao que se passa à minha volta, que a Justiça me impõe, assim o determinam.
Será isto uma negação da minha liberdade de escolha?
Numa simplificação um pouco redutora, digamos que o Hierofante bebe na ideologia e a Justiça opera nas relações sociais. Ambos, no entanto, pedem que me ajeite, que me comporte do modo mais adequado ao colectivo e à realidade em que estou inserido. Nessa medida, limitam certamente a minha liberdade individual, mas podemos procurar outros ângulos para explorar estas tendências.
Se o Hierofante é de facto o sumo sacerdote, ele não me obriga a manter-me no seu rebanho. Posso até escolher quebrar a regra e sair, solitário, sem causar algum dano. Mas posso antes tentar aprofundar as causas da minha pertença, não em mim, por necessidade de me sentir acolhido, mas nas razões maiores que presidem à própria regra, procurando conhecer melhor as explicações, aproximando-me intelectualmente do núcleo de princípios agregadores da comunidade onde estou.
Dito de um modo mais simples: fico no grupo porque conheço e acredito profundamente na ideologia que o cimenta, não apenas para me sentir enquadrado e protegido. Assim, eu escolho pertencer, no exercício esclarecido da minha liberdade, aceitando cumprir a regra porque faz sentido para mim.
Já a Justiça olha de fora para os acontecimentos, numa busca de equilíbrios que tornem as coisas mais fáceis e justas (passe a redundância). Pede ainda que me ajeita ao que se passa em meu redor, moldando-me na medida do aceitável e assim facilitando a minha vida. É uma atitude racional, por vezes oportunista, que me ajuda a conviver. Implica que eu tenha noção das causas e consequências dos meus actos e da lógica que preside às circunstâncias que me rodeiam. Depois, que aja diplomaticamente, reduzindo os atritos.
Estamos, pois, perante energias que me obrigam a lidar com o meu enquadramento, quer no grupo com que me identifico, quer perante o desenrolar dos acontecimentos à minha volta. Preciso de pôr de lado os estados de alma e focar-me mais nas questões de fundo e nos aspectos práticos da minha vida em comum.
Não é tempo de tentar contrariar o sentido da corrente, remando contra a maré. O que está em causa é mais o “estar”, não o “ser”. Fiquemos assim, por agora.
Uma boa semana para todos!
Imagem : Keymaster Tarot, de Lorenzo Gaggiotti / Requiem Team, 2020

Deixe um comentário