Por Clara Days:
Ideias-chave: estrutura, pertença e imobilidade; paragem forçada para estabilizar e integrar; enquadro-me, submeto-me e espero sem intervir.
A movimentação da semana anterior foi sol de pouca dura. Vejo-me agora de volta à necessidade de me encaixar no grupo de pertença, quer a nível moral, quer no lado social. Tudo isto numa imobilidade forçada que me impede de tomar quaisquer medidas, por enquanto.
Vejamos, então:
Parece ser o Hierofante a energia de continuidade que, mesmo na semana passada, apesar das forças dinâmicas que se apresentaram, pairou no cenário. Uma época com o Hierofante, queiramos ou não, força-nos a considerar a nossa relação ideológica e cultural com o enquadramento humano a que pertencemos. Há nele mais do que conservadorismo, há valores profundos que se impõem às circunstâncias, explicando as razões que me prendem aos outros. Mas é sem dúvida uma força conservadora, ligada à tradição e à moral. Oferece-me consolo mediante a aceitação, mais ou menos esclarecida, dessas regras subjacentes a uma comunidade.
Desta vez vem reforçado pela força do Imperador, organizador social por excelência, que usa a instituição e a estabilidade como suporte duma ordem indispensável ao bom funcionamento das comunidades humanas. O que num é moral no outro é lei, mas igualmente regra. O Imperador representa a autoridade, uma figura “paterna” mais ou menos autoritária, mas sempre gestora do comportamento colectivo. Traz-me a necessidade de cumprir para não correr riscos, oferece-me protecção mediante o “bom comportamento”. Entre estes dois, a necessidade de me sentir vinculado ao grupo é a força dominante.
Não mais caminhar sozinho, ainda que o quisesse. Mas… caminhar? Será que posso mesmo pretender caminhar, agora? É que o Dependurado apareceu, para dar ainda mais peso às restrições que parecem estar a ser-me impostas.
Com o Dependurado há mais do que restrição, há a imposição duma imobilidade forçada. Estou desconfortavelmente parado, impossibilitado de intervir nos acontecimentos que me rodeiam, pelo menos por agora. Pendurado por um pé, em posição sacrificial, resta-me observar o que se passa à minha volta por um novo prisma, com esta inusitada e original perspectiva.
Este será então um tempo para “amochar”, observar e saber aguardar do modo mais produtivo que me for possível, preparando-me para quando a onda passar. Submeto-me, sujeito-me, mas tenho tempo para reflectir, também a oportunidade de ver as coisas de um ponto de vista diferente. Ninguém manda no meu pensamento e posso arquitectar o futuro de acordo com a informação que recolho, ainda que submisso, quieto e calado. É a isso que me devo dedicar, sem queixumes nem revolta.
Uma boa semana para todos!
Imagem: 5 Cents Tarot, de Madam Clara, 2021

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