Por Clara Days:
Ideias-chave: desapego e moderação; seguir em frente, combinar contrastes; recombinação em inquietude.
Não posso mais ficar aqui. O que me prendia precisa de ser cortado, tenho de procurar o meu caminho sem olhar para trás. Posso não ter a certeza do destino, mas parto em viagem, confio que as encruzilhadas me ensinarão por onde ir. Esta inquietude que me assola não se resolve de outra maneira…
Mas o que se passa à minha volta não me é indiferente. Vejo, oiço e leio, não posso ignorar os conflitos, os contrastes, as contradições que fervilham por aí. Sinto em mim o poder de as transformar, se me aplicar a analisá-las, decompô-las e encontrar novas combinações que permitam uma nova solução.
Estou, pois, dividido entre uma necessidade pessoal de libertação em movimento e um compromisso íntimo de tentar moderar o que se passa à minha volta. Por muito que me sinta tentado a fechar-me e concentrar-me apenas no meu próprio caminho, o apelo do entorno que precisa de resolução faz-se sentir a cada passo. Oscilo entre as duas atitudes, à minha maneira, ora focado e introvertido, ora interveniente e pacificador.
O caminho faz-se então mais ponderado e lento, com paragens para interagir, mas sempre rumo ao desconhecido. A trajectória é entrecortada e as decisões que tomo para procurar defini-la incluem problemas alheios, que procuro moderar e não apenas ignorar ou contornar, como seria meu secreto desejo.
No desapego a que me quero entregar, incluo um compromisso com os outros, não já os que me moldaram o passado, mas aqueles com que me vou cruzando. Seguro as rédeas das bestas que puxam o meu carro, procuro conduzi-las para onde é minha vontade, mas paro para ajudar quem está na beira da estrada. Isto atrasa-me? Provavelmente, mas dá-me também satisfação interior. É gratificante sentir que me faço útil quando consigo apaziguar os conflitos alheios.
Talvez deva também focar-me em apaziguar os meus próprios conflitos internos. Talvez precise de acompanhar esta inquietude por um esforço de resolução das dúvidas e contradições que borbulham cá dentro, tentando decompô-las e depois recombiná-las duma forma menos dolorosa, mais produtiva.
Talvez possa alhear-me um pouco do que se passa à minha volta, para em vez disso resolver conflitos dentro de mim, enquanto sigo o caminho a que me vou propondo. Terei assim melhores bases para as decisões que for preciso ir tomando, para escolher as curvas e veredas com que me vou cruzar. Vou tentar fazê-lo assim.
Um bom caminho para cada um de vós!
Imagem : Dreaming Way Tarot, de Rome Choi e Kwon Shina, 2012

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