Por Clara Days:
Ideias-chave: entre a intuição e a tradição; receptividade, espiritualização e conformação; mente em calma, ideologia e moral.
Algo parece ter mudado depois do eclipse de ontem: são diferentes as energias que nos influenciam e carregadas de poder espiritual (seja lá isso o que for…). Os dois “religiosos” do Tarot vêm juntos, a Sacerdotisa intuitiva e intimista e o Hierofante estruturado e sábio. Que diferenças vão operar em nós?
Olhemos primeiro para ela, Arcano Maior número dois, representando a energia da Lua astrológica. A Sacerdotisa pede calma e recolhimento, para que cada um consiga sentir a voz da sua essência mais profunda, impossível de definir por palavras. Governa a noite e os sonhos, irracionais, mas simbólicos, ecos do nosso inconsciente. Pode não se compreender pela lógica, mas sente-se e intui-se o seu chamamento.
Já o Hierofante nos liga antes a uma tradição ideológica, onde nos podemos acolher e que ajuda a estruturar o nosso pensamento. Dá-nos a pertença a um grupo, composto por aqueles que pensam como nós, junto do qual estamos protegidos, mas a cujas regras e ensinamentos temos de nos adaptar, ou sujeitar. A força do colectivo depende aqui da sintonia das opiniões, dos rituais e da conformação. Tudo se baseia numa crença quase material, de tão concretizada.
O problema é se estes dois são cara e coroa da nossa alma ou operam antes em territórios distintos, que podem ser mesmo antagónicos. Até que ponto aquilo em que acredito corresponde ao que intimamente sinto ou é fruto do desejo de me sentir enquadrado e acolhido? As ideias que persigo são consonantes com o meu ser espiritual ou escolho-as para pertencer a um grupo que me dê segurança e me empodere? O que é intuitivo e o que é racional, no meu posicionamento perante a vida e os acontecimentos?
Aqui tudo depende das circunstâncias de cada um, já se sabe, mas também da nossa honestidade intelectual. Confiar na nossa intuição pode levar-nos para múltiplos caminhos, nem sempre consentâneos com o que a racionalidade aconselha.
Há ainda uma outra maneira de ver as coisas: a de estarmos perante um Hierofante de quem somos seguidores ou de sermos o próprio Hierofante, mestre iluminado. No segundo caso, haverá maior consonância entre ele e a essência da Sacerdotisa. Tratar-se-á então de conseguir trazer para a racionalidade o sentimento, dando-lhe estrutura e aprofundando o nosso conhecimento sobre ele. Será este o nosso objectivo, se quisermos tirar o máximo partido da presença destes dois Arcanos em simultâneo.
Seja como for, será importante que cada um dê espaço à sua Sacerdotisa íntima e que não a desvirtue nas palavras ou nos actos. Meditemos, exercitemos o espírito, procuremos momentos de paz interior para que ela se possa manifestar.
Uma boa semana para todos nós!
Imagem : Cosmic Tarot, de Norbert Losche, 1986
Céus!!! Rosita Iguana 
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