Por Clara Days:
Ideias-chave: tradição e redenção; cumpro a regra, revejo o passado; pertencer e perdoar.
Aproxima-se o Solstício de Junho, tempo celeste maior que pode determinar mudanças. Para o receber temos uma combinação da energia do sumo-sacerdote Hierofante, guardião da moral e dos segredos ancestrais, com o espírito regenerador dum Julgamento que nos sugere que revisitemos o passado à luz do perdão.
O Hierofante pede que consideremos até que ponto nos é importante pertencer a um grupo de iguais, acolhedor e protector, mas que em contrapartida nos pede a conformação à regra que dentro dele impera. Não precisa de vir da tradição em que fomos educados, pode ser a ideologia que escolhemos abraçar, mas sempre implica a aceitação de pressupostos comuns que estabelecem regras e preceitos. Recebo em troca a pertença, com todo o conforto moral que isso traz.
Do outro lado da equação que agora nos desafia temos o Julgamento / Eão, energia bem mais alargada na compreensão do nosso papel no mundo, que nos remete para a avaliação do que temos sido e pede que tenhamos para com o nosso comportamento uma atitude crítica que seja tolerante e benévola, tal como faríamos na apreciação do comportamento alheio. Sem fechar os olhos às falhas ou ter falsas modéstias, devemos tentar corrigir o que deva ser corrigido, remediar o que tiver remédio e ultrapassar o que está definitivamente passado e não merece ser revisitado.
Da articulação entre estas duas atitudes temos que há, por um lado, um apelo ao conformismo, mas, por outro, uma abertura para a redenção. Não são duas faces da mesma moeda, operam em níveis de consciência bem diversos, o primeiro mais pessoal e o segundo tendencialmente universalizante. Se pendemos mais para um ou para o outro terá que ver com as circunstâncias em que nos encontramos, com a etapa de vida que podemos ou não estar em vias de concluir e ainda com a maturidade dos nossos ideais.
Pode dar-se o caso de nos ser sobretudo importante o acolhimento, sob a protecção do Hierofante. Nada contra, se não exigirmos de nós mais do que é razoável e activarmos a nossa capacidade de auto-perdão para o que for simples e perdoável. Nesta assunção, estaremos a usar o Julgamento para matizar as exigências implícitas do Hierofante.
Mas se se der o contrário, isto é, se estivermos mais soltos e olhando a vida de cima, com maior sentido de perspectiva, o Hierofante virá para apelar a que, dentro da atitude redentora que o Julgamento permite, haja uma concessão à importância que a partilha de ideais tem na nossa integração pessoal junto dos nossos e dos outros em geral. Não somos superiores ao grupo, apenas pertencemos talvez àqueles que estão num nível de consciência mais elevado, mas continuamos a ter responsabilidades morais para com o colectivo.
E assim gravitaremos, entre o sentido de pertença com respeito pela tradição e a libertação pelo perdão, para um possível renascimento.
Bom Solstício para todos nós!
Imagem : Meraki Tarot (2ª edição), de Natalie Meraki, 2022
Céus!!! Rosita Iguana 
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