Por Clara Days:
Ideias-chave: intuição, emoção e transgressão; sabedoria íntima, sentimento, liberdade; a sós, visito a sombra e sigo o instinto.
Dias íntimos e intensos para vivermos, onde podemos arriscar muito para ser fiéis a nós próprios. Pela união da Sacerdotisa com a Lua e o Diabo juntam-se forças de interioridade “feminina” com a energia que não aceita rei nem mestre, criando um tempo de verdade absoluta por onde podemos perder-nos – ou encontrar-nos.
Analisemos os Arcanos em presença, um por um:
A Sacerdotisa sabe o sentido profundo das coisas, sem precisar de explicá-lo. Está ligada ao eu interior de cada um de nós, representando um tempo de meditação e fechamento, onde a intuição substitui as palavras. A sua energia paira entre a matéria e o espírito, tranquila, em meditação e intimidade.
Com a Lua, vem a relação que temos com as manifestações do nosso inconsciente, com os sonhos e os pesadelos, com os medos mais profundos e enraizados. São aspectos que tentamos ignorar no dia a dia, que tentamos mascarar ou desvalorizar na maior parte do tempo. Ao pedir uma visita à nossa sombra, a Lua pede que sejamos capazes de a iluminar e aquietar.
Por sua vez, o Diabo é independente e aguerrido, nunca baixa a cabeça e não se deixa influenciar pelas conveniências, costumes ou opiniões alheias. Sem prejudicar terceiros, aceita os riscos inerentes à afirmação da sua vontade, num caminho solitário onde assume os seus actos e as respectivas consequências, sejam quais forem.
Como se articulam, a três?
O que me parece é que se potenciam uns aos outros, para o melhor ou para o pior. A espiritualidade intuitiva da Sacerdotisa combina-se bem com a busca interior da Lua, virada para as sombras que evitamos reconhecer. A energia primal e instintiva do Diabo, impulsionando-nos para seguir as vontades mais inconfessáveis, abre caminhos de liberdade absoluta onde podemos expandir a sombra, ou iluminá-la e resolvê-la. Seja como for, é tudo muito imprevisível e pode ser radical, mais no foro íntimo do que na vida social.
Com a Sacerdotisa e o Diabo a inspirar-nos, as decisões que tomarmos terão como base a intuição, um saber construído nas leituras subconscientes da realidade, e o instinto, ferramenta genética de auto-preservação e sobrevivência, que nos impele a seguir sem tempo para pensar. Tudo isto num tempo regido também pela Lua do Tarot, o nosso lado escuro, onde os medos e os traumas se acolhem para nos assombrar.
Afundamo-nos, progredimos ou conseguimos resolver? Isso está por determinar e depende de factores internos de cada um, da forma como souber gerir as forças que o compõem. Usemos a Sacerdotisa para inspirar, a luz da Lua para iluminar e o Diabo para nos libertar – assim, valerá a pena.
Uma boa semana para todos nós!
Imagem : Tarot de Marselha, original do séc. XVIII restaurado em 1998 por Camoin / Jorodowski

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