Por Clara Days:
Palavras-chave: introspecção perante destruição; retiro em tempo de disrupção; jornada intrapessoal para libertação.
Tempos complicados, estes: sempre que a Torre nos abana as estruturas e desconstrói as convicções que nos têm servido de escudo, desaba-nos o mundo interior. Ora, o Eremita quer que nos visitemos por dentro numa atitude de paciente descoberta, nada sintonizada com a disrupção. Como podemos gerir com calma o desastre anunciado?
Comecemos por procurar entender a Torre Fulminada, geralmente tida como pouco favorável, mas que é essencialmente uma energia libertadora, embora correspondente ao Princípio da Destruição. Quando a Torre surge, é-nos explicado que podem vir mudanças súbitas e radicais para a nossa vida, mas não que o resultado será necessariamente negativo para a nossa pessoa.
Vejamos: as rotinas mecanizadas que criamos são um escudo protector para a inconstância e a mudança, princípios naturais da existência. A ordem parece ser protectora, até ao ponto em que se torna sufocante – são os muros da torre. Dentro deles escondemos inseguranças, medos, a falta de coragem para correr riscos. Mas a vida impõe-se e virá sempre um factor externo, poderoso, que chega e faz desmoronar os nossos muros. É uma disrupção brusca e destrutiva, tão assustadora quanto libertadora. No entanto, sabemo-lo, toda a poeira assentará, e nesse momento tomaremos consciência de que estamos perante um horizonte mais vasto, com mais soluções, mostrando caminhos diferentes que poderemos percorrer.
Quanto ao Eremita, ele propõe que vamos ao encontro de nós próprios. Pede-nos paciência, dá-nos tempo e convida à auto-análise, ao auto-conhecimento. Tudo o que é superficial é desprezado porque este é um solitário percurso interior em busca do mais verdadeiro que haja em cada um de nós. O que nos motiva? Quais os princípios e valores em que fundamos as nossas raízes? Para onde devemos ir, em consonância com o que somos e não com o que a vida social nos impõe?
É como se, com o Eremita, tudo desacelere, o ruído exterior abrande, e fiquemos a sós connosco. Qual o propósito da nossa jornada? Qual o sentido dos nossos actos? Por onde levar o nosso caminho? São mais as perguntas e menos as respostas, num percurso íntimo de compreensão que nos possa conduzir à aceitação – é o Princípio da Introspecção.
Portanto, recapitulemos: a vida desarruma-se subitamente, desconstroem-se-nos as certezas, mas o que nos é sugerido é que nos procuremos compreender por dentro, que sejamos capazes duma reacção calma e instrospectiva, questionando antes de mais a nós próprios em busca da compreensão mais profunda das nossas verdadeiras necessidades, motivações e anseios. É obra!
Estejamos então preparados. Não deixemos que a desconstrução súbita nos destrua por dentro, pois ela vai pôr a nu o que precisamos de ver e que pode ter estado escondido. Questionemo-nos mais do que nunca, em vez de procurar fora de nós as causas de todos os males. A introspecção é o caminho, para lidar com esta destruição.
E… uma boa semana para todos nós!
Imagem : Tarocco Soprafino, de Carlo Della Rocca, 1835

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