Energia para a Semana 29 Dez-5 Jan: XII O DEPENDURADO

Por Clara Days:

Palavras-chave: espera; devoção; sacrifício; transcendência

Estou suspenso no ar, estou suspenso no tempo.
No entanto, estou sereno, tranquilo. A situação em que me encontro foi aquela em a vida me pôs, mas não contra minha vontade. Vivo uma transição. Sinto, observo, transcendo.
Sei que, neste momento, não está ao meu alcance mudar o que me rodeia. Sei que a posição em que me encontro não é confortável. Mas tudo isto é necessário, para que eu possa ver a vida por um ângulo novo, diferente em tudo do habitual. De pernas para o ar, mas não em sofrimento.
Assim, olharei para as minhas circunstâncias como se de outra pessoa se tratasse, e poderei encontrar uma nova distância, para saber como fazer face aos meus problemas. Assim, terei tempo para encontrar as palavras certas e transformadoras que, quando o momento chegar, direi. Assim, conseguirei definir o novo caminho por onde, quando o momento chegar, seguirei.
Vivo um tempo de preparação e transformação. Transcendo, porque me elevo acima dos acontecimentos e consigo observá-los. Não me encerrei no meu casulo, antes estou num tranquilo estado de alerta, por muito paradoxal que isto pareça.
Vivo este intervalo, esta paragem, para me aperfeiçoar, para encontrar rumo. A consciência de que não tenho condições para intervir, de imediato, liberta-me de estar a planear, no curto prazo, o que dizer e fazer. Assim, observo e ouço com uma atenção maior. Assim, projecto para mais longe.
Mais do que um sacrifício, vivo um ritual, que me ilumina e me amadurece. A seu tempo, no momento certo, voltarei à acção.

Esta carta já se designou como “Enforcado”, baseada numa tradução grosseira para o português. O Tarot de Osho Zen chama-lhe “A Nova Visão”, outros atribuem-lhe nomes como “Apostolado”, “Afogado”, “Traidor”, “Inversão”, “Provação”.
As imagens mostram um homem suspenso por um pé, de mãos atadas nas costas, numa postura sacrificial que nos remete para a tradição judaico-cristã, onde somos ensinados que é pelo sofrimento que nos podemos aproximar da perfeição. A expressão facial é de serenidade, na maioria das representações. A posição das duas pernas, uma direita (a que está suspensa) e a outra dobrada e atada, forma como que um 4. Em algumas representações ancestrais surge de mãos livres, segurando sacos que parecem conter dinheiro, ou que simbolizarão as posses terrenas, como que indicando que delas se deve despojar.
A letra hebraica que corresponde ao Arcano Maior “O Dependurado” é MEM, a Fonte da Sabedoria. O número 12 é, desde a ancestralidade e em diferentes culturas, usado para organizar espácio-temporalmente a vida dos homens. 12 são os meses do ano, os signos do Zodíaco, os animais que correspondem aos anos chineses, os trabalhos de Hércules. O título esotérico atribuído a esta carta é “O Espírito das Águas Poderosas”.
Em Astrologia, a primeira correspondência que é referenciada associa o Arcano Maior 12 ao elemento Água, sensitivo e emocional, que reflecte o afecto e o sofrimento, mas também encaminha para a poesia. A segunda associação é com Neptuno, planeta lento, da divindade, também da irracionalidade, que governa a sabedoria intuitiva, a ilusão e o misticismo. São associações que remetem para a dimensão sacrificial e mística da interpretação desta carta, mas vão mais longe: apelam para o sentido superior dessa postura pessoal. Focam-se na atitude, mas também na Visão, embora mais para uma visão intuitiva.

Nesta semana, entramos no Ano Novo do calendário, tempo de festa, também de balanço. Neste 2020, porque se trata duma transição numérica de mudança de década, há como que um significado adicional que convida a uma avaliação de mais longo prazo, e é aqui que entra “O Dependurado”.
A carta, que hoje nos inspira, sugere que nos foquemos mais no balanço do que na festa. Pede elevação e visão, em vez de acção. É como que um convite a que nos distanciemos mentalmente da nossa situação concreta, para a avaliarmos por novos ângulos, procurando diferentes significados e amadurecendo projectos para o futuro.
Segundo esta energia da semana, transitaremos de 2019 para 2020 num tempo suspenso, que nos permite uma certa dose de renúncia à nossa vontade pessoal, numa atitude que é assumida como devoção, uma confiança de que a suspensão em que estamos faz sentido e representa altruísmo e progresso.
Por uns dias, deixemos acontecer, mas estejamos atentos. Não está nas nossas mãos mudar os outros, apenas a nós próprios. Mas, para isso acontecer de um modo mais profundo, precisamos de transcender o ego, de elevar a nossa visão dos acontecimentos e da vida e de saber esperar.
Façamos o balanço desta última década, a nível pessoal, na perspectiva de encontrar um rumo futuro. Não caiamos na banalidade de desejar mudanças quase mesquinhas, como emagrecer ou ser mais pontual.
Nesta semana de Ano Novo, há uma alegoria do Tempo que paira sobre todos. Vivemos uma etapa de transição. Elevemo-nos e olhemos mais de longe, para mais longe e mais profundo. Saibamos parar, para depois agir. A seu tempo.

Imagem : Tarot Victorian Fairy, de Lunaea Weatherstone e Gary A. Lippincott, 2013

Clara Days

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