Por Clara Days:
Palavras-chave: eliminação; transformação; metamorfose; renovação
Falemos dela, a mais transformadora e definitiva das passagens, cujo nome os antigos nem ousavam pronunciar, de medo que viesse, ao ouvir esse chamado, para os levar consigo. Falemos da Morte, carta ou conceito, como a mais necessária e absoluta condição para que haja Vida.
Heráclito disse: “Nada é permanente, salvo a mudança”. E é de mudança que fala este Arcano Maior número 13, quando nos lembra que, para que o novo possa crescer, tem que o velho sair de cena, assim permitindo a renovação.
Falemos da Morte como a revolução inevitável, a que podemos sujeitar-nos com sacrifício ou entrega, mas que podemos antes potenciar, para entrarmos, renovados, numa nova etapa, num novo estádio, mais positivo e transformador. Ao subir uma escada, tenho que deixar um degrau para trás, quando avanço para o degrau seguinte.
As mudanças podem vir progressivamente para a nossa vida, instalando-se a pouco e pouco, transformando sem reboliço, nem ruído. Mas há sempre momentos radicais, de ruptura – esta Morte será um deles. As mudanças que ela simboliza são evidentes e definitivas, nunca passam despercebidas. E cada um de nós, para ser maior e melhor, precisa de abraçar esses momentos como progresso, evolução. É preciso saber largar, para poder ultrapassar e recomeçar. Se o fizermos com consciência, será sempre para procurar melhor, mais alto, mais positivo. Seja qual for o resultado, é sempre um progresso pessoal.
Falemos da Morte como uma amiga, que não nos deixa amolecer, decair, apodrecer, porque nos força a abraçar a transformação e a avançar.
O Tarot de Osho-Zen chama a este Arcano Maior “A Transformação”, outros designam-no assinalando características que até parecem contraditórias, como “Jornada”, “Imortalidade” ou “Fim”.
Das imagens, lembremos as representações tão comuns na Idade Média, o esqueleto encapuçado, a Ceifeira da Vida que decapitava todos com uma foice, à sua passagem, para representar a devastação de uma peste, nesse tempo em que ninguém sabia de onde vinha uma epidemia, mas apenas o quanto dizimava, com a sua passagem. A pé, ou a cavalo, esse esqueleto vai adquirindo, no Tarot mais recente, traços e adereços que o elevam a uma condição mais positiva, como uma flor branca (geralmente uma rosa), uma bandeira, uma ave (pomba, corvo), uma borboleta; pode ainda ser a representação de uma mulher, jovem e bela, ou feiticeira em ritual. Cada vez mais, nos baralhos recentes, as referências visuais aludem à ideia de transformação, ou metamorfose.
O número 13, para os Aztecas, era o que regulava os ciclos de tempo; na numerologia cabalística, entre outros significados, é o número da regeneração espiritual. A letra hebraica que corresponde a este Arcano Maior é NUN, o Messias. O seu título esotérico: “O filho dos Grandes Transformadores” ou “O Senhor dos Portais da Morte”.
Astrologicamente, a carta da Morte corresponde a Escorpião, signo fixo de Água, do Outono de folhas caídas que se transformam em húmus. No Zodíaco, é o simétrico / oposto de Touro, que simbolizava a carta da semana que agora passou (A Roda da Fortuna). É como se haja aqui uma progressão de complementaridade, pois os signos opostos, como estes, como que representam o verso e o reverso duma mesma folha, no sentido em que o que num é exaltado falta no outro, como se se complementem, ou contrabalancem. Escorpião é intenso e radical, mesmo quando aparece inofensivo.
Eu diria que esta semana está influenciada por uma energia que continua o processo da semana anterior, mas vai mais longe: se, na semana passada, era necessária a progressão, agora é inevitável a transformação.
Ninguém deve ficar no seu casulo, a lembrar a lagarta que já foi. Há que ter a coragem de sair e estender as asas, para ensaiar novos voos. Há que acreditar que o que está para vir virá por bem, sejam quais forem as suas vestes.
Esta será uma semana para transformações e mudanças. Que seja para melhor. Ou que cada um faça a sua parte, para que, seja para onde for, a mudança resulte positiva.
Imagem: Tarot Impressionist, de Corrine Kenner e Arturo Picca, a partir de um quadro de Van Gogh, 2015
Gratidão, rosita pela tua partilha, bjos e abraços de luz em teu coração, filipe