Por Clara Days:
Palavras-chave: iluminação; compaixão; absolvição; reparação.
Agora, consigo olhar para trás e compreender o caminho que percorri. Estou no cimo da montanha e isso aguça-me – mas também me adoça – o olhar. Escolhi trilhos bons, outros piores, mas, se cheguei aonde estou, foi porque algo de positivo me guiou.
É tempo de compreensão, tempo de perdão. Fazer as pazes com o passado é o único modo de partir, com segurança e optimismo, para o futuro. Estou a viver um momento único, aquele em que consigo sair de mim próprio e usar de compaixão para comigo, tanto quanto para com os outros.
Todo o erro que é reconhecido merece ser perdoado. Toda a falha que foi menor deve ser reduzida à sua verdadeira insignificância.
O perdão mais difícil de obter é este, de mim para comigo. Devo fazer-me justiça, o karma concluiu um ciclo e trouxe-me a recompensa de me sentir orgulhoso de mim, pelo que fiz, pelo que recebi, pelo que aprendi.
Não há aqui lugar para falsas modéstias, o meu sentimento é genuíno e puro: é a manifestação do amor-próprio, da auto-estima. Este é um Julgamento redentor.
A carta chama-se também Eão (Aeon), na escola de Crowley. Este termo foi escolhido para designar a série de poderes espirituais evoluídos por emanação progressiva do Ser Eterno, cada um representando um período de tempo. Corresponde, pois, à confirmação de que há um ciclo que se cumpre, uma etapa que chega ao fim. Mas há também quem designe a carta como “Além da Ilusão”, “Fénix”, “Renascimento”, “Ressurreição” ou “Justiça”.
As imagens passam, ao longo dos tempos, a partir de uma colagem à iconografia do Julgamento Final descrito na Bíblia judaico-cristã, para símbolos mais espirituais e optimistas, como a Fénix renascida, o arco-íris, a borboleta, a pomba, a coruja sábia. Continua a haver muitos baralhos que recorrem às trombetas celestes que levantam os mortos dos seus túmulos, mas cada vez mais surgem as metáforas visuais alternativas.
A letra hebraica associada a este Arcano Maior é SHIN ou SIN, o aperfeiçoar da consciência. O número 20, embora possa ser simplesmente reduzido a 2 (cooperação e dualidade), tem um significado próprio na numerologia cabalística, onde representa o sentimento de justiça e a reparação. O título esotérico para o Julgamento ou Eão é “O Espírito do Fogo Fundamental”.
Astrologicamente, a carta referencia-se a Plutão, planeta da transmutação e da regeneração. Ele corresponde à justiça imanente, a que é intrínseca e exclusiva, em cada um de nós. É aquilo que sai de dentro para fora, e que pode até ser violento, como a erupção de um vulcão. É o planeta da morte e renascimento, indissociáveis. Rege Escorpião, o signo que corresponde à carta da semana que passou, “A Morte”.
O Julgamento vem, nesta semana, para dar continuidade ao processo de mudança que já foi enunciado nas duas semanas anteriores, com a Roda da Fortuna e a Morte. Desta vez, é-nos sugerido que nos elevemos acima da nossa pequenez e consigamos ser magnânimos para connosco, olhando para trás e compreendendo os porquês do caminho que fizemos, para nos podermos perdoar e redimir.
Ser juiz em causa própria é o que nos é proposto, mas não para nos desculparmos, perante outros. É um processo íntimo e autêntico, que acorda sentimentos de perdão e assim nos torna, também, mais capazes de compreender os outros, de sentir compaixão.
Temos uma semana onde seremos justos e íntegros, na avaliação do momento que vivemos e das mudanças em que estamos envolvidos. Este processo prepara-nos para a confiança em nós próprios, absolutamente necessária, quando encetamos uma etapa, um projecto.
Somos capazes de sentir auto-estima? Temos compaixão pelos outros? Conseguimos ver para além das máscaras sociais, as nossas e as dos que nos rodeiam? Temos assuntos mal resolvidos, tememos o julgamento alheio?
O que podemos fazer para nos perdoarmos e redimirmos?
São estas as perguntas para as quais precisamos de encontrar respostas esperançosas.
Imagem : Tarot Dark Grimoire, de Michele Penco, 2008
Céus!!! Rosita Iguana 
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