Por Clara Days:
Ideias-chave: busca activa e solitária; desapego auto-centrado; viagem de auto-conhecimento
Nesta semana que entra, devo ser capaz de partir, para me encontrar. O Carro e o Eremita são insólitos parceiros que me obrigam a sair para fora da minha zona de conforto (ou de confinamento? ou de prisão?), mas essencialmente focado em mim.
Estamos na esfera do agir, antes de mais. Há medidas práticas de afastamento, ou, melhor dizendo, de desapego, que tenho que tomar. O Princípio do Desapego governa o Carro, sétimo Arcano Maior, sétima etapa da viagem do peregrino, fazendo-o tomar em mãos a sua independência e procurar caminho que seja seu e apenas seu. Já cresceu o suficiente para se desapegar, mas ainda precisa de se encontrar, para se poder afirmar.
Já o Eremita, a nona etapa, é o Arcano Maior que se associa ao Princípio da Introspecção, que é um processo interior de auto-conhecimento feito com paciência e tempo. Vem aqui moderar os ímpetos do condutor do Carro, controlando-lhe a velocidade, obrigando-o a um exercício de auto-centramento que pode parecer incompatível com o percurso em que se envolve, mas que precisa de saber compatibilizar.
Temos então o condutor do Carro, guerreiro solitário em movimento, mas simultaneamente focado em si e procurando, entre as memórias e as cicatrizes da alma, as explicações que lhe permitam entender o que verdadeiramente o inquieta ou motiva. Desta vez, a viagem do Carro parece uma peregrinação meditativa.
É guerreiro porque vai armado e defendido, por não confiar agora nos outros, mas aceita a mão experiente do velho Eremita para o conduzir pelos mistérios que guarda em si. O Carro vai a passo, talvez de noite, iluminado pela lanterna focada e certeira do seu companheiro. Para além das decisões que vai tomando sobre o caminho a percorrer, pois essa é a sua essência, a cada encruzilhada o nosso herói se vai confrontando com mais um pedaço de si, que deve ser capaz de reconhecer e integrar.
Assim vamos nós, na companhia dos dois.
Há na energia do Carro muita força juvenil, enquanto que a sabedoria do Eremita lhe vem, principalmente, da sua avançada idade. Saberá o primeiro aceitar o que lhe quer mostrar o segundo? Terá a maturidade suficiente para perceber que não é o comportamento naturalmente impulsivo que o levará para um lugar melhor?
Os tempos exigem-nos a capacidade de desapegar e de ir tomando decisões que o Carro nos traz, mas também nos pedem que sejamos prudentes, pacientes e auto-centrados. Quem vai conseguir conjugar tudo isto para melhor se preparar para o futuro?
Sigamos então viagem, viajemos dentro de nós próprios.
Imagem: Brady Tarot, de Emi Brady, 2018
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