Energias para a Semana 1-8/12/24: I CARRO VII E A LUA XVIII

Por Clara Days:

Ideias-chave: inquietação íntima e movimento externo; perseguido por fantasmas, busco o desapego; sigo viagem para me encontrar.

Esperam-me dias de desassossego. À impaciência para sair do lugar onde tenho estado, pedida pelo Carro, juntam-se os pensamentos inquietantes que a Lua me traz, precisamente aqueles que costumo evitar lembrar.

O Carro representa o princípio do desapego, o corte definitivo do cordão umbilical que me prende às origens. É como se o que tem sido a minha zona de conforto se tenha transformado agora num lugar inóspito de onde preciso de partir, sem demora nem remorsos. Quero encontrar um caminho só meu, ainda que o preço dessa independência seja um isolamento forçado. A verdade é que venho de alguma forma magoado pelo que se passou, e assim tento proteger-me de mais sofrimento como posso, couraçando os sentimentos para evitar mais feridas.

Estou animado pela minha determinação. Montado no Carro, conduzo os cavalos que tentam desviar-se da rota que vou querendo para mim. Não tenho rumo definido, por isso tomo decisões a cada encruzilhada, definindo etapas que se irão suceder até encontrar onde ficar.

Esta a inquietação externa. Agora, a interna: essa vem-me da Lua, que acorda fantasmas que eu tenho querido manter adormecidos.

O que a Lua me mostra é o meu lado sombrio, iluminando com suave luz fria os recantos dolorosos do meu passado, que deixaram as marcas que tento ignorar. Traz-mos em sonhos, por vezes pesadelos, faz-me enfrentá-los, quando eu preferiria esquecer. A Lua sabe que só resolvendo as mágoas mal acabadas eu posso vir a poder ultrapassá-las, por isso me força a este difícil exercício.

É assim, habitado por memórias que se não deixam esquecer, que sigo o meu caminho solitário. Há uma forte dinâmica de movimento nisto tudo, é como se seja uma missão de salvação pessoal. Viajo em busca de mim, acho eu. Depois de umas semanas em que as energias que me têm acompanhado tentaram alinhar-me com os meus iguais, sinto-me agora diferente, único e só, condenado a procurar rumo sem bússola nem direcção definida.

Sei que se voltasse para trás, para me acolher no meu lugar primitivo, talvez fosse bem recebido, desde que aceitasse subjugar-me às imposições colectivas. Tenho vivido sob essa protecção, que agora me parece asfixiante, a viagem que estou fazendo é mais dura do que eu pensava que fosse. Ninguém para me acudir, ninguém para me orientar…

Se eu ultrapassar esta provação, ficarei certamente mais maduro e forte. Até lá, tenho de arcar com o peso desta memória em ferida, ruminando do passado enquanto vou definindo um caminho que me dê futuro.

Coragem, minha gente!

Imagem: La Corte Dei Tarocchi, de Anna Maria d’Onofrio, 1999

Clara Days