Por Clara Days:
Palavras-chave: movimento; oportunidade; karma; ciclo.
E de novo a Roda da Fortuna, a trazer-nos o Princípio Universal do Movimento e da Expansão, a falar do devir como algo que está também nas nossas mãos determinar, ao tomarmos decisões transformadoras nos momentos de oportunidade.
Podemos conformar-nos com o que a vida nos traz. Ela trará sempre elementos contrastantes, porque isso é do equilíbrio universal, e virá do bom e do mau. Isto é: trará o que trouxer, mas determinar o que é bom ou mau já depende da nossa percepção e do nosso julgamento. No entanto, não sejamos presunçosos nem injustos: há evidentemente lugares e situações onde as oportunidades de encontrar felicidade pessoal são mais difíceis do que noutros.
Mas ponhamos o problema de outra maneira: o que faço eu com o que a vida me traz? Estou disposto a trabalhar para que o que me acontece possa ser mais favorável? Estou disposto a viver as circunstâncias adversas como desafios, onde tenho alguma margem de manobra transformadora? No decurso dos acontecimentos da minha vida, estou atento às oportunidades que surgem, para me melhorar?
Os contrastes cíclicos são leis da natureza, pertencem à categoria dos elementos que permitem o equilíbrio dinâmico do Universo. Assim evolui também a nossa vida, no tempo e no espaço: períodos agitados a que se seguem tempos de acalmia; tempos de gestação de ideias e tempos de concretizar; momentos de atenção e momentos de dispersão; e por aí fora… Do que fizermos, receberemos retorno, mas também com esse retorno poderemos fazer mais.
O Tarot de Crowley chama a este Arcano Maior apenas “Fortuna”, o de Osho Zen “Mudança”, outros atribuem-lhe nomes como “Retribuição”, “Roda das Reincarnações” ou “Esfinge”.
A imagem da Roda da Fortuna, ancestral na cultura mediterrânica, pertence à iconografia medieval europeia: a Dama Fortuna, vendada, fazia rodar a sua enorme roda de fiar, e nela os que subiram na vida caíam depois, para de novo poderem subir, sendo inevitável uma nova queda, e assim sucessivamente. Os que ascendem encontram-se representados em estado de graça ou de felicidade, enquanto que os que descem mostram desgraça ou influências maléficas. No topo, o equilíbrio (por exemplo, um Rei coroado), mas que se sabe passageiro. Na base, frequentemente, suportando a roda sobre as costas, em posição de gatas, está um velho barbado – o declínio, a subjugação total. Nas cartas dos diferentes baralhos podem surgir, adicionalmente, elementos simbólicos com diferentes significados, como a serpente, ou os animais de poder representativos dos quatro elementos primordiais, ou os raios celestes. A mulher que faz girar a Roda da Vida foi progressivamente desaparecendo das representações, nas cartas; mas a roda que gira é uma constante, até aos baralhos de Tarot mais contemporâneos e eclécticos, que a referenciam frequentemente aos ciclos da natureza.
A Roda da Fortuna está astrologicamente associada a Júpiter, pai dos deuses, tradicionalmente conhecido como “o grande benéfico”. A letra hebraica que lhe corresponde é KAPH ou KAF, o poder para actualizar o potencial. O número 10 é a base da estrutura de explicação do Universo para os pitagóricos e os cabalistas. Título esotérico deste arcano maior: “O Senhor das Forças da Vida”.
Vivemos um tempo em que as mudanças se sucedem, óbvias e inevitáveis, mas gerando também as oportunidades. Aproveitar este potencial para imprimir mudança positiva à nossa vida é o que hoje nos é proposto.
A acção conjunta da inteligência e da criatividade dão-nos a capacidade de “dar a volta” a situações, potenciando aspectos mais favoráveis e tentando neutralizar os que nos podem ser prejudiciais.
A Roda da Fortuna não nos leva inevitavelmente do bom para o mau e do mau para o bom, num círculo vicioso: faz-nos andar, traz movimento e expansão, mas a mudança cíclica que proporciona pode e deve ser uma evolução permanente, onde aprendemos com os fracassos para que não sejam repetidos e nos vamos sempre podendo situar num patamar superior àquele onde antes estivemos.
Não há como fugir ao movimento, na vida. Foquemo-nos então nas oportunidades que ele cria, pois elas vão surgir e podemos “apanhá-las”, se estivermos atentos e tivermos mente aberta. Haverá sempre uma parte do nosso destino que será moldada por nós.
Imagem – Tarot Deviant Moon, de Patrick Valenza (2016)
Gosto muito do seu trabalho. Obrigada
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