Por Clara Days:
Palavras-chave: Equilíbrio; moderação; combinação; integração.
Estou no meio. Entre a sombra e a luz, entre o fogo e a água, entre o positivo e o negativo, eu faço a ponte e combino. Sou catalisador, sou diplomacia. Transformo o conflito em algo novo, inclusivo, melhor. Sou a Temperança, represento o Princípio da Integração dos Opostos.
A chave está na “Moderação”. Moderação discreta, íntima e passiva, também moderação activa, interventiva. Na modéstia, certamente, mas sobretudo na busca dos consensos criadores, na contenção dos conflitos, só que mantendo viva a ideia de que “da discussão nasce a luz”.
“Equilíbrio”, outra palavra. Porque eleva a um estatuto equivalente as partes em contradição e assim permite que se contrabalancem, em vez de se contraporem. Ainda outra, “Combinação”: das partes contrárias tiro o melhor para, com dois melhores, construir o óptimo.
Temperança como virtude, como resistência passiva. Temperança como alquimia, como “solve et coagula” – dissolve e recombina.
Diferentes baralhos atribuem-lhe outras designações: “Arte”, “Integração”, “Tempo”, “Alquimia”, “A medida certa”.
Nas imagens sou mulher alada, ou arcanjo, ser terreno ou celestial que verte o líquido de uma substância entre duas vasilhas. Tenho um pé na água e um pé na terra, o Sol nasce por trás de mim. Triângulo no peito, o círculo de luz ou uma estrela na testa.
Mas posso também ser a feiticeira que se debruça sobre o caldeirão, onde a água e o fogo se combinam, em vez de se anularem. Posso ter duas caras, ambas verdadeiras: o meu lado luminoso, o meu lado sombrio. Posso ter a companhia de duas ou mais bestas elementais, touro, leão, águia, anjo.
Correspondo, em Astrologia, ao signo de Sagitário, mutante de Fogo, símbolo da relação com o que está longe. Correspondo à letra hebraica SAMECH ou SAMEKH, o ciclo interminável. O meu número, 14, reduz-se a 5, que na numerologia cabalística é representação da liberdade, da evolução, do sentimento de aventura que nos leva ao crescimento. Os meus títulos esotéricos são “A Filha dos Reconciliadores”, ou “A Parteira da Vida”.
Agora, nós. Nesta primeira semana de Setembro, em aproximação a mais um equinócio, um dos dois dias do ano em que a noite e o dia duram o mesmo tempo, em todo o mundo, somos inspirados pela Arte da Temperança, que nos incentiva a construir harmonia entre os opostos.
É tempo de acalmar paixões, sem as ignorar. Tempo de pacificar, Isto, em sequência natural, após a semana em que o Imperador nos fez assentar pés a terra e procurar segurança. Faz sentido, é progresso.
Intimamente, é um bom momento para conciliar o que somos com o que mostramos e fazemos. Externamente, é a altura certa para moderar conflitos e procurar soluções criativas e consensuais.
Devemos ser persistentes, persuasivos, sentir e inspirar confiança. Para cada cara há uma coroa, para cada capa uma contracapa, tudo o que é plano tem duas faces. Não o ignoremos. Por mais simples que um problema nos pareça, há um oposto, um complemento, que pode ajudar para uma solução melhor. Não nos cinjamos ao fácil, ao óbvio.
Ainda que tranquila, a Temperança é exigente. Tiremos das nossas contradições o melhor partido…
Imagem : Tarot Sun and Moon, de Vanessa Decort, 2010
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