Por Clara Days:
Palavras-chave: Vitalidade; equilíbrio; motivação; auto-domínio.
Quero ser quem sou. Sou verso e reverso de mim mesmo, porque sou animal, mas também pessoa.
Quero sentir o pulsar dos impulsos internos que trago no meu código genético, preparando-me para enfrentar todos os perigos e a eles reagir. Quero viver essa minha essência vital, mas controlá-la. A consciência, melhor lado da minha humanidade, precisa de ouvir a voz do instinto, de respeitar esses impulsos, mas mantendo-se vigilante e dominando o meu comportamento. É desse equilíbrio que preciso.
Nasci equipado para procurar o alimento e o prazer, preservando e mantendo a vida, também para fugir do que me ameaça, ou combatê-lo. Cresci com a aprendizagem da palavra, com o exercício do pensamento, a par do sentimento. Penso, logo existo.
Mas ser humano não pode corresponder a reprimir o animal que também sou. Ele é a minha verdade mais natural, mais primária, porque irracional. Ele sabe sem pensar, age pela força imperiosa da necessidade. Posso controlar-lhe a intensidade, devo procurar compreendê-lo, mas, sem a sua força, eu morreria. Traz-me vitalidade, entusiasmo, a motivação que me leva a querer avançar, se bem que me possa levar por caminhos que comprometem a minha vida em sociedade, ou desumanizam o meu respeito pelo outro. Está ao meu alcance determinar esses caminhos, mas devo usar a força íntima que me impele. Porque sou verso e reverso de mim e, assim, me completo.
Chamam-me Força, também Entusiasmo. Já me chamaram Luxúria, realçando o meu impulso para viver o corpo e o amor físico. Para o Tarot de Osho Zen, sou Avanço, para outros Harmonia, Persuasão ou Coragem, todos designando atributos motivadores e positivos. Sou ainda a Velha do paganismo, cheia de sabedoria e cuidado. Numeram-me 8 ou 11, números simétricos, espelhados, em equilíbrio.
As imagens das cartas, nos diferentes baralhos, representam maioritariamente uma mulher e uma fera, geralmente um felino de grande porte que se lhe submete, em gesto cúmplice e amigável. O domínio é da mulher, mas não há imposição pela força, antes uma harmonia natural entre os dois protagonistas. Duas personagens, elementos de valor contrário, em equilíbrio. Pairando sobre eles, surge recorrentemente a lemniscata, o símbolo do infinito, adoptado por diversas correntes espirituais para simbolizar a evolução da esfera física e da espiritual, sucedendo-se continuamente e em permanente recomeço.
A letra hebraica que é associada a este Arcano Maior é TETH, a serpente, a espiral que se interliga. O número 11, embora possa ser reduzido ao 2 da polaridade (aqui entre a força animal e a racionalidade humana), é um “número mestre”, cuja vibração denota inspiração, intuição e capacidade de levar a cabo as metas mais arrojadas e improváveis; o 8 está ligado à justiça e ao equilíbrio, à mediação de conflitos. O seu título esotérico: “A Filha da Espada Flamejante” ou “O Senhor do Leão”.
Astrologicamente, a Força corresponde a Leão, signo de Fogo, fixo, regido pelo Sol. É expansivo, proactivo, representando a afirmação do Eu. No entanto, essa afirmação pode ser excessivamente egocêntrica, ou mesmo egoísta. Na correspondência com a carta, é como se fosse pedido que essas manifestações, que subvalorizam os outros, sejam controladas.
Temos então, nesta semana, a inspiração para avançarmos com motivação nos projectos em que estamos envolvidos, harmonizando o impulso para prosseguir com a regra da racionalidade. Um e o outro serão necessários.
É importante sermos capazes de aproveitar ao máximo essa espécie de “instinto criador”, que tem o potencial de nos impelir para correr riscos, experimentar, inovar. Mas é fundamental que não demos “rédea solta” aos impulsos, para não causarmos danos que possam comprometer o futuro. Em síntese, digamos que há que usar o Entusiasmo para avançar, mantendo a Força do auto-controle.
Pode não ser simples de encontrar, esse equilíbrio. Mas a energia inspiradora deste Arcano Maior facilitará o contrabalanço, para que a usemos em favor do progresso consciente daquilo em que acreditamos.
Se é verdade que “o coração tem razões que a razão desconhece”, neste momento há que tentar pôr os dois, razão e coração, no mesmo compasso.
Imagem : Tarot New Palladini, de David Palladini, 1996
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