Por Clara Days:
Palavras-chave: destruição; arraso; revolução; libertação
E, de repente, tudo o que tenho à minha volta se desfaz. É um estrondo, uma queda no abismo, que me precipita inevitavelmente para uma nova condição, de onde não conseguirei voltar.
Levei a vida à procura da estabilidade, construí estruturas pessoais de protecção, abriguei-me. Encontrei o meu cantinho, a minha zona de conforto, de onde não arriscava sair. E, agora, num momento brutal, tudo isso acabou. Sinto-me sem chão, perdido, no meio dos escombros. Não tenho onde me esconder, não sei para onde fugir. Paralisado, resta-me esperar.
Mas, lentamente, a escuridão de pó e destroços que me envolve começa a dissipar-se. Há ar puro, sol, um largo horizonte por onde posso espraiar o olhar. Os pássaros cantam, o regato corre, há montanhas, planícies, oceanos. Com surpresa, apercebo-me desta nova realidade, mais aberta, mais esperançosa. Vejo mais longe, há caminhos por onde seguir, ou outros, para desbravar.
As pedras soltas, restos do que foi a minha fortaleza, são, agora, volumes sem vida, vestígios de uma prisão sem janelas. Posso acobardar-me e recomeçar a alinhá-las, para construir novo esconderijo. Mas não quero.
Quero aventurar-me e encontrar novos caminhos, correr riscos, aceitar desafios. A vida dá-me uma oportunidade onde me posso reconstruir, numa nova organização pessoal; isso é libertador, é estimulante.
Vivi a experiência da Torre Fulminada. Assustei-me, recompus-me, tenho novos motivos para acreditar.
Afinal, vejo agora, não estava protegido – estava confinado, aprisionado pelo medo de mudar. Não era uma zona de conforto, era um lugar fechado que não tinha espaço para eu me expandir.
O Tarot chama a esta carta “Torre”, por vezes com a explicação de que é “Fulminada”, mas foi, primitivamente, “A Casa de Deus”. Há, agora, baralhos que a designam como “O Raio”, “Fragilidade”, “Hospital” ou “Libertação”.
Nas imagens, a Torre Fulminada é literal: o raio celeste que cai e destrói uma estrutura de pedra, por vezes coroada (sinal de poder terreno), mas que agora se desmorona e de onde caem personagens, em total desamparo. O cenário é inóspito, pedregoso, escuro, ou um mar alteroso no meio da tempestade. O momento da destruição é captado no seu instante mais dramático, mais assustador. As pessoas precipitam-se de cabeça para baixo, em desespero. O Olho de Deus pode espreitar, dominando tudo. Mas pode haver gotas de luz que unem o céu à terra, sinais de esperança.
A letra hebraica que corresponde ao arcano Torre é PEH ou PEI – a boca. O número 16 é o quadrado do 4 – podendo simbolizar a destruição da ordem e estabilidade do quadrado – ou pode reduzir-se a 7, um número de conquista e de grande espiritualidade. Título esotérico da carta: O Senhor das Hostes dos Poderosos.
Astrologicamente, a Torre corresponde a Marte, planeta da combatividade, da iniciativa. É a energia da tensão no concreto, da confrontação. Representa a presença de espírito, a audácia, o sentido estratégico de um combatente. Em contrapartida, Marte é conflituoso, temerário, pode ser imprudente. Avança, agita, não espera. Por onde passa, deixa o seu rasto – tal como o raio que fulmina a Torre.
Entremos preparados, nesta semana, para mudanças que possam vir e que pareçam arrasadoras. Não será por acaso, não será fatal – retenhamos a mensagem de esperança.
Pode parecer que nos tiram o chão de baixo dos pés, mas, na realidade, vamos ser desafiados para sair da nossa zona de conforto, quebrar rotinas, arriscar soluções diferentes. Não é tempo para cobardias, se queremos que a vida avance.
É preciso manter a confiança e convocar a coragem. Por muito radical que seja a mudança de rumo, quando a poeira assentar, veremos mais longe, haverá mais pistas para prosseguir, novas metas para atingir. Valerá a pena.
O povo diz: Há males que vêm por bem. O Tarot explica: A Torre.
Imagem : Tarot de Christine Zillich, 2018
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