Por Clara Days:
Palavras-chave: mudança; destino; oportunidade; ciclo.
A vida não pára. O presente não é mais do que o fugaz encontro entre o passado e o futuro.
Posso retirar-me, esconder-me, posso paralisar, sabotar, mas o mundo continua a girar e os acontecimentos sucedem-se, em ciclos permanentes de avanço e recuo, de subida e descida. É a Roda da Vida.
Posso crer que seja o destino, que haja uma força superior que comanda o sucesso e o insucesso, e que seja inevitável que na ascensão e queda haja sempre perdas e danos, e remorsos, ou culpa. É a Roda da Fortuna.
Mudança, reencarnação, retribuição, tudo isso. Porque cada acção tem consequências e do que faço recebo, duma forma ou doutra, o retorno. Cada decisão que tomo me leva por um caminho que mudará alguma coisa. Posso usar este meu poder para o sim, para o talvez, para o não. Posso não me aperceber, e no entanto…
Melhor será ser espiral, e ser ascendente. Que cada ciclo termine no princípio doutro mais elevado, sucessivamente. Também tenho esse poder, mesmo quando o coração me diz que correu mal. Porque aprendo.
Aliás, sejamos justos, não há princípio nem fim. Tudo está encadeado e eu, centro do meu mundo, giro nessa cadeia. Que seja para progredir, não para me estontear.
Nas imagens das cartas, neste Arcano Maior 10 há personagens em ascensão e queda, presas ou agarradas à grande roda que gira, e que por vezes nos surge suportada nos ombros de um homem ou ao lado da mulher (geralmente vendada) que a faz girar. A roda pode também surgir suspensa no espaço, circundada pelas quatro bestas simbólicas dos elementos: touro, leão, águia, anjo – terra, fogo, água, ar. As personagens que ascendem ou caem podem ser humanas ou animais, mas nas versões mais contemporâneas há como que um abandono de presenças vivas, passando a representação a ser mais simbólica e despojada – por exemplo, a roda das estações do ano.
O 10 é a base da estrutura numérica que utilizamos, 10 são os dedos das mãos. Se for reduzido a 1 é inicio, individualidade, independência. A letra hebraica que corresponde a este Arcano é KAPH ou KAF, o poder para actualizar o potencial. O seu título esotérico: “O Senhor das Forças da Vida”.
A Roda está astrologicamente associada a Júpiter. Ele é o grande benéfico, de longos ciclos de 12 anos, representando a expansão da personalidade, a largueza de espírito, a generosidade. Júpiter é Pai dos deuses, tolerante, facilitador. É protector, amigo e também juiz.
Depois de amanhã teremos a Lua Cheia, momento celeste de transição que favorece mudança e renovação cíclica. Na tradição das antigas culturas tribais da América do Norte, a Lua Cheia de Novembro é a do Castor, animal construtor que activamente se prepara para o longo Inverno.
Tudo facilita, por estes dias, que as nossas decisões possam ser produtivas. No que está na nossa mão, podemos determinar mudança. Usemos a Roda como inspiração para avançar…
“E a roda deste fado
só não a teme quem a encara
e os que ainda andam na mó de cima
têm que saber que a roda não pára
e fatalmente o fim se aproxima
a vida não pára”
(Sérgio Godinho, “Fado do Kilas”)
Imagem : Tarot Shining Tribe, de Rachel Pollack, 2001
Clara Days
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