Por Clara Days:
Palavras-chave: comunicação; criatividade; vontade; perícia.
Sopram ventos de mudança. Há um novo impulso para avançar e o futuro abre-se perante nós, pedindo novas rotas, novas metas. Hoje estamos com o 1, marcando a nova jornada. Estamos com o Mago, para quem o poder só é poder se for manifestado, o projecto só tem validade quando se cumpre. É tempo de começar a fazer acontecer.
Quando o Louco viaja pelos Arcanos numerados, começa por aqui, para poder dar uso ao seu potencial. Com o Mago, aprende a exprimir-se, a comunicar e a intervir; está no primeiro patamar da consciência de si, como indivíduo, dotado da capacidade de compreender, para poder transformar.
O Mago não é mágico, é um espiritual realista, por muito contraditório que isto possa parecer. Não é ilusionista, pois só se realiza quando cumpre uma ideia, de forma prática e tangível.
Traz o espírito para a matéria, não apenas como mediador, mas também como actor.
E porque a vida é dinâmica, quer a nível pessoal, quer no colectivo, até ao universal, o Mago nunca pára, a sua energia parece inesgotável. Enfrenta cada dificuldade como um desafio a superar e exerce o seu poder na concretização das soluções que descobre. Tenha ou não as condições formalmente adequadas, ele encontra as suas ferramentas dando uso ao que a vida lhe traz, ao que tem à volta, ao seu alcance.
É o sonhador que consegue ser empreendedor. É adaptável, mas, sobretudo, criativo. Começa por percepcionar, abre-se a todas as possibilidades; analisa conscientemente, para que novas ideias nasçam; encontra, de entre todas, a que melhor resposta dá; por fim, foca-se nessa solução e constrói o que for preciso, para a concretizar. Assim se cumpre e realiza.
A designação mais antiga para este Arcano Maior 1 é um termo francês, “Bateleur”, que corresponde aos antigos feirantes que montavam banca nos mercados europeus e faziam de tudo, desde arrancar dentes e pequenos arranjos, bem como a realizar truques de manipulação, para entreter os passantes, ou para os enganar. De “bateleur” passou a Mago, ou Mágico (Magus). No Tarot de Osho Zen é “A Existência”. Mais recentemente, diferentes baralhos chamam-lhe “Perícia”, “Empreendedor” ou “Taumaturgo”, o milagreiro. Também o podem designar como um deus ou um mito ancestral, como “Cristo Gnóstico”, “Merlin”, ou “Hermes”.
As imagens do Tarot mais primitivo apresentam-nos o “bateleur” com a sua banca montada, onde estão expostos, entre outros, os objectos que simbolizam os quatro naipes: a taça, o bastão florido, o gládio ou espada e o disco circular, a moeda com pentagrama. Com o tempo, a postura física do Mago passa a ter um significado: erguendo com uma mão a vara virada para o céu, tem a outra mão apontado para o chão. Assim, a pose do Mago sugere seja aquele que põe em contacto o divino e o concreto, o céu e a terra – o pensar e o agir, na leitura mais comum. Sobre a sua cabeça paira frequentemente a Lemniscata, o 8 horizontal que simboliza o infinito. Pode surgir o caduceu, a vara com serpentes enroladas, símbolo de poder e clarividência.
A letra hebraica que está associada ao Mago é BETH, ou BEIT, a Casa. O número 1 faz dele a unidade de referência, e, para os pitagóricos, é o número da inteligência. O seu título esotérico: “O Mago do Poder”.
Astrologicamente, esta carta corresponde a Mercúrio, que é o mais rápido dos planetas do nosso sistema, representante do intelecto, da expressão e da comunicação. É o planeta da racionalidade, numa postura flexível e adaptável. Mercúrio reporta-se às deslocações, bem como às mensagens. Quando está retrógrado, há contratempos no dia-a-dia, sobretudo nas viagens e nas comunicações.
Nesta semana que começa, com o Mago a influenciar-nos, há condições para que consigamos clarificar internamente o novo rumo que queremos seguir. Mas também estaremos mais eficientes, para a resolução concreta das pequenas (ou grandes) questões que nos têm impedido de avançar. A comunicação estará mais solta e fácil, poderemos exprimir-nos com maior clareza e melhor compreender as mensagens dos outros.
Da percepção intuitiva, até ao concreto, o Mago será inspirador e facilitador. Poderemos sentir-nos mais criativos e engenhosos, conseguindo potenciar a nossa capacidade de intervenção – aproveitemos bem estas características, que nos podem “desencalhar”, nas circunstâncias em que nos encontramos.
O Mago é idealista, inteligente e interveniente. As suas qualidades estão patentes nas palavras deste poema:
“Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
(…)
Eles não sabem, nem sonham
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o Mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.”
(António Gedeão, in “Pedra Filosofal”)
Imagem – Tarot Urban, de Robin Scott, 2019
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