Energia para a Semana 10-17 Mai- VII O CARRO

Por Clara Days:

Palavras-chave: desapego; vontade; controle; viagem.

Tenho que partir, sem olhar para trás. Preciso de me emancipar, de desapegar do que já não me serve, ou que nem sequer faz sentido. Não tenho rumo, tenho vontade. Estou disposto a tudo, em busca de um novo lugar.
Longe vai o tempo do conforto securizante, onde havia certezas, que afinal não o eram. Longe vai o tempo das previsões acertadas e dos projectos que eu sabia viabilizar. Agora, que nada é certo, visto a couraça que forjei com os sofrimentos recentes e disponho-me à viagem.
A convicção mais forte que me move é a de que não voltarei atrás. Faço tábua rasa do que tive e fui, não levo bagagem, a não ser esta armadura. Sem dúvida que escondo as minhas feridas, como se disso dependa o potencial de sucesso desta empreitada. Não posso dar-me ao luxo de ter a fragilidade à mostra.
Agora, só conto comigo e com a determinação que me dá força. Posso não levar bagagem, mas levo memória, nesta solidão assumida. E é essa memória que me faz querer estar protegido.
Qual o destino? Nem eu sei. Mas sei que, para já, sigo o percurso que o instinto vai ditando; por isso tento, com todas as minhas forças, controlar a trajectória do caminho. Uma parte de mim está confiante, a outra aceita que há imponderáveis à espreita e “seja o que Deus quiser”.
Oxalá o tempo me vá dando as oportunidades. Oxalá eu faça as opções certas. Oxalá o que vem pela frente me permita crescer e reencontrar-me, num Eu renovado, numa nova independência, lá, no lugar onde eu decida assentar.
Preciso de me proteger do sofrimento, não posso sentir-me vulnerável. Recorro à minha armadura, tenho aprendizagens acumuladas que agora podem ser as minhas armas, tenho o carro. Mas os cavalos também têm vontade própria, verdade seja dita. Eles lá têm os seus interesses, que não coincidem necessariamente com os meus – por isso, as rédeas não podem afrouxar, tenho que estar em alerta permanente.
Voltarei a ter certezas? Duvido… Mas quero acreditar que voltarei a confiar, um dia, lá mais para a frente. Quero acreditar que, das minhas sucessivas decisões, se fará um caminho para uma nova realidade, que seja melhor. Sem essa crença, não teria ânimo para avançar.
Estou condenado à solidão? Talvez… Para ter companhia, é preciso baixar a guarda, é preciso que, de novo, me deixe tocar – será que voltarei a ser capaz de mostrar-me como sou, assumindo a minha vulnerabilidade? Será que as feridas, quando sararem (se sararem…), deixarão marcas demasiado profundas?
Agora, vivo no hoje. Quero ser protagonista, na definição do meu futuro. Oxalá acerte. Deus queira que sim. Eu quero que sim, e farei tudo o que estiver ao meu alcance para, um dia, atingir o meu objectivo.

Imagem : Moka Art, pintura de Luca Maria Gambardella, 2016

Clara Days

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