Por Clara Days:
Palavras-chave: Moderação; conciliação; integração; harmonização.
A vida traz-me o doce e o amargo, dá-me luz e sombra, inspira-me medo e esperança. A cada dia que passa, passo eu dum lado ao outro, atravessando simetricamente o espelho, do positivo ao negativo, ou vice-versa – e, no entanto…
Afinal, onde me coloco? Onde devo estar? Como navego, nas águas de confrontos que me rodeiam?
Vem a mensagem da Temperança, mulher, anjo ou feiticeira: é preciso encontrar o ponto entre o certo e o errado, pois ambos os conceitos são, na verdade, abstracções.
Ela tem um pé na água e o outro em terra, um no subconsciente e o outro na realidade. Transporta entre dois vasos o fluido da comunicação, da união criadora e criativa. A Temperança propõe, para a oposição, uma síntese transformadora, em que as partes se diluem e recompõem, assim tomando novas qualidades (como diria o poeta, que nem sequer falava de alquimia).
Mudança e conflito são inerentes à natureza das coisas, queira-se ou não reconhecer. Mesmo quando não sou parte, faço parte dessa dinâmica. Posso assistir, posso fugir, posso agir – qualquer das opções tem influência no desenrolar dos acontecimentos.
Como se posiciona a Temperança? Assumidamente, está de fora, mas faz parte. A Temperança lembra que a neutralidade é uma posição, não uma omissão. Eu posso ser temperança, ou Arte: deixando fluir, transportando, facilitando, influenciando a transformação. Posso moderar, harmonizar, facilitar, equilibrar, posso mesmo transcender…
Que poderes tenho que alinhar em mim, para moderar os opostos com que a vida me desafia? Como no processo alquímico, é preciso decompor, diluir, para depois recombinar. Primeiramente, tenho que me “desapaixonar”, para observar e inferir. Só depois saberei o que fazer, para catalisar a reacção que é produtiva e atenuar a que tenha potencial destruidor.
Inspirado pela Temperança, sou o protagonista discreto, focado em obter o melhor resultado. Sou recurso para a mudança que precisa de acontecer. Sou para dentro, na pacificação dos meus contrastes; sou para os outros, integrando os opostos. Mas o principal é o que acontece, influenciado pela minha intervenção.
Posso ser Temperança. Posso reforçar a espiritualidade e temperar com ela aquilo em que toco. Devo prevenir o extremar das posições, preciso de intervir para conciliar o que parece inconciliável.
Eu integro o problema, para ser parte da solução.
Imagem : Tarot Integration of the Angels, de Jody Boginski Barbessi, 2018
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