Por Clara Days:
Palavras-chave: emoção; intuição; sonho; compreensão.
Deixemos a luz da Lua iluminar a noite que mora em nós. É tempo de encarar os medos e os anseios, as vergonhas, os receios, os lugares sombrios que trazemos dentro e que tentamos quase sempre não reconhecer. Tempo de viver o que temos de mais íntimo e profundo, de dar ao sonho a mesma importância que damos à consciência.
Somos feitos de luz e sombra, cada uma define a outra. Deixemos então a luz suave da Lua entrar nas nossas sombras, mostrar-lhes os contornos, os detalhes, o que até agora foi inconfessável.
Olhemos para dentro, foquemo-nos em nós, vencendo as barreiras conscientes que temos erguido em torno do que é mais íntimo e frágil.
É certo que dói. Se não doesse, não nos teríamos dado ao trabalho de erguer os muros… Mas a dor de alma só se ultrapassa se olharmos para ela de frente e a procurarmos entender, se aceitarmos que é preciso ir à procura da origem, da raiz, do passado que ficou mal resolvido.
A Lua pede que oiçamos a intuição e os recados dos sonhos, do nosso inconsciente. A verdade é que a criança assustada que já fomos mora inteira, dentro de nós. Tem medo do escuro, do papão, de não ser amada. Será que podemos ir acarinhá-la? Será que sabemos dar-lhe confiança? Esse é o maior desafio: reconhecer a nossa maior fragilidade, para tentar fortalecê-la. Dir-me-ão: andei uma vida inteira a procurar esquecer, para quê ir lá, rebuscar na memória? E eu respondo que só os fortes têm a coragem de enfrentar o medo. Nada do que possa ter sido construído sobre o que temos de mais frágil pode resistir aos abalos do tempo. A Lua chama-nos agora para ir até lá, à fragilidade, à dor profunda, porque só se a compreendermos poderemos vir a aceitá-la, quiçá resolvê-la.
Com a ajuda da Lua, aprendamos a amar-nos com um amor assim:
“Desvenda-me o teu lado mauzão
O túnel secreto, a loja de horrores
A arca escondida debaixo do chão
Com poeira de sonhos e ruínas de amor
Eu hei de te amar por esse lado escuro
Com lados felizes eu já não me iludo
Se resistir à treva é um amor seguro
A prova de bala, à prova de tudo”
(poema de Carlos Tê na canção “Lado Lunar”, de Rui Veloso)
Imagem : Tarot The Field, de Hannah Elizabeth Fofana, 2020
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