Por Clara Days:
Palavras-chave: altruísmo; devoção; sacrifício; transcendência.
Nada a fazer senão esperar. As decisões ficam em pausa, enquanto olho em volta, tentando ver com um olhar diferente o que me rodeia. Não posso agir, melhor aceitar e tentar tirar partido da situação: os problemas estão lá, as soluções ainda não se formaram, preciso de manter em mim a paciência e a esperança de que virá o tempo em que isso mudará. Preciso de ser capaz de parar, para poder transcender, para poder superar. Olho em volta, a partir desta estranha posição em que me deixei colocar: há uma realidade diferente ao alcance do meu olhar, uma realidade de pernas para o ar, virada ao contrário, alternativa.
Vivo com esta realidade, enquanto o tempo de sair daqui não chegar. Não é uma posição confortável, certamente. Sacrifico-me para não estragar, para não intervir no que me afecta, mas não me pertence. Preciso de ser capaz de assistir ao desenrolar dos acontecimentos e deixar acontecer; aqueles que me rodeiam devem trilhar os seus caminhos, sem a minha interferência…Sacrifico-me por um bem maior, que não é só para mim, que talvez nem sequer seja para mim. Aceito ser quem se afasta, quem está em suspenso, quem se sujeita passivamente aos acontecimentos exteriores; mas faço-o de livre vontade, pois acredito que desta postura virá bondade, a médio ou longo prazo.
Aceito a imobilidade, enquanto for preciso. Entretanto, há que reflectir no que poderei fazer depois. Há que tirar partido da espera observando melhor, pois há sempre novos ângulos para explorar, numa realidade que é multifacetada. Na espera, preparo-me para o devir.Não tenham pena de mim, pois estou a crescer e a aprender. Aprendo a paciência e a devoção. Amadureço, ganho sabedoria. Encontro novas dimensões de mim mesmo, mais profundas, mais difíceis, mais altruístas. Aprendo-me e aprendo uma nova maneira de estar, de saber esperar, de deixar os problemas no seu lugar, elevando-me acima deles, procurando diferentes saídas.Estou em pausa, uma pausa tranquila, difícil, não propriamente feliz, mas que me deixa de bem comigo. Neste tempo sacrificial, sou capaz de aguardar, sou capaz de transcender.
Imagem : Tarot White Sage, de Theresa Hutch, 2018
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