Por Clara Days:
Palavras-chave: inconsciente; sonho; emoção; passado
Enquanto a Lua cresce no céu de Novembro, neste ano de 2020, a todos os títulos excepcional, preciso de me virar para dentro. Tudo o que é novo e difícil, no presente, à minha volta, ecoa algures na memória, acordando sentimentos profundos, enraizados no meu passado mais antigo. Preciso de ir ao encontro desses vestígios, para poder achar os laços que me faltam, na compreensão de quem sou. Sou feito do que vivi, mesmo quando não me lembro, e as lembranças esquecidas não estão apagadas: podem estar desfocadas, podem mesmo estar reprimidas, escondidas, mas deixaram marca e condicionam as minhas reacções mais inexplicáveis. Por isso é tão importante ter a coragem de visitá-las.
Viajo por mim, em mim, à descoberta dos sonhos e dos medos, para os alumiar. Enquanto devo fazer frente aos problemas do presente, procuro a criança que fui, para poder compreendê-la, acalmá-la, para poder conhecer-me e proteger-me.Terei medo do escuro? Do papão? Da rejeição? Terei desenvolvido reflexos, hábitos, reacções que ainda mantenho e me inquietam? Preciso de ter a valentia de os encarar, para os enquadrar e, enquadrando-os, reconhecer as semelhanças, os gatilhos que disparam, quando a vida me traz coisas parecidas que me fazem sentir assustado, desesperado ou impotente, perante os acontecimentos.Entre as brumas de minha memória esconde-se um lado muito íntimo e verdadeiro, que não foi ainda capaz de se resolver. Preciso, antes de mais, de o reconhecer. Precisarei também de o conhecer, se conseguir – e é isso que devo pretender.
A Lua do Tarot fala dos aspectos mais escuros do inconsciente, do passado que prende, mas também da sabedoria verdadeira, intuitiva. Empresta-me qualidades do signo de Peixes, a que corresponde: a idealização, o misticismo, o sentido de sacrifício, tal como a indecisão e a tendência para a evasão. Devo procurar usá-las no seu melhor, para meu bem…Enquanto a Lua cresce nos céus de Novembro, deste ano tremendo, que nunca esqueceremos, procuro por mim. Em última análise, só eu posso verdadeiramente ajudar-me.
Imagem – Tarot de Visconti-Sforza, circa 1450
Deixe uma Resposta