Por Clara Days:
Palavras-chave: fisicalidade; sensitividade; fertilidade; vitalidade.
Apesar de todos os pesares, vem hoje a Imperatriz visitar-nos, inspirar-nos para que tentemos parar de pensar, de nos preocuparmos, de anteciparmos cenários imprevisíveis. Vem ligar-nos ao que é natural e simples, ao nosso lado físico e sensorial, sem estados de alma que nos desviem ou aflijam. Para que nos sintonizemos connosco e com o que nos rodeia do modo mais básico e matricial, para que sintamos correr o sangue nas veias e nos alegremos com isso, por estarmos bem e com saúde, se estivermos, ou por trabalharmos para vir a estar, com a força que nos vem do instinto e da natureza.
Estar com a Imperatriz é estar comigo, com o meu corpo, também com o meu lado fértil e maternal: proteger, cuidar dos outros, das crianças, dos mais frágeis, de todos os seres vivos que estejam à minha guarda, sejam eles do reino animal ou do vegetal.Estar com a Imperatriz é viver através dos sentidos, acima de tudo, intervalando dos raciocínios complexos, desanuviando dos pensamentos viciados, aliviando o peso dos sentimentos de culpa ou das responsabilidades sociais que me oprimam. Preciso disso. Preciso de um tempo para respirar mais fundo, para reconhecer os cheiros e os sabores, saborear a passagem do ar pela minha pele, o encontro da minha pele com aquilo que me veste, que me toca ou que me envolve, deixar-me envolver pelos sons que me fazem divagar sem destino mental certo, acertando o olhar com a paisagem e disfrutando do que tem para me oferecer de belo, no que é grande, ou no que é pequeno. Preciso de conseguir voltar a mim, nem que seja passageiro, para só estar, só ser, sem precisar de me focar no que há para fazer ou para decidir.
Sou o meu corpo, ainda que seja mais do que ele. Sou o meu corpo, antes de tudo o resto, e não posso deixar que esse resto me aliene da condição mais básica da minha existência. Devo cuidar de mim, por isso, também. Ser. Estar. Aproveitar todos os momentos em que possa apenas ser eu e deixar-me estar. Sentir. Cuidar. Proteger. Ficar assim, enquanto espero que a ordem das coisas se resolva, ou que eu precise de voltar a ela, para essa resolução. Sem remorsos. Sem anseios. Sem medo. Sem complicações. Dando-me tempo de descanso, sempre que possa, enquanto espero que uma verdadeira Primavera venha, que nos tire deste longo Inverno de angústia e confinamento.
Imagem : Mid-Centurian Tarot Deck, de Mary Blair, 2016
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