Por Clara Days:
Ideias-chave: libertar o corpo em conformidade espiritual; o primado dos sentidos e o primado da regra; proteger e cuidar respeitando o grupo
Em contradição continuando, e continuando também as energias em presença, que nos revisitam. Volta a Imperatriz, convidando-nos a viver as sensações e os sentidos sem pensar muito, volta o Hierofante, que nos arruma no grupo de pertença, pagando o preço de respeitar as regras. São duas faces, mas talvez não da mesma moeda. Como fazê-los entenderem-se?
No entanto, ela corresponde a Vénus e ele a Touro, a primeira regente do segundo. Que Vénus é a Imperatriz? Que Touro é o Hierofante?
Enquanto a Imperatriz quer paz e sossego e confia que a natureza tudo resolverá, ele precisa da estrutura e da ordem de uma referência racional, uma ideia, uma matriz cultural. Ela flui, ele contém. Aprisiona-a? Provavelmente… Mas se ela se soltar, causará estrago? Provavelmente, também…
Assim nós, fluidos contidos, a querer ser, mas tendo que estar. Atentos e confinados, por muito que fosse melhor de outra maneira. Ai, tempos difíceis… Contradições a que estamos sujeitos. Como sujeitos, sujeitamo-nos. O Hierofante contem a Imperatriz.
Quisera eu poder viver em dois planos paralelos, o pessoal em pleno, o social noutro patamar. Nada disso me é permitido. Sei-o, mesmo quando não o sinto. O Hierofante contem a Imperatriz. Quisera eu inverter as coisas, poder soltar-me, ser mais natural, mais espontâneo, mais eu… A Imperatriz resiste ao Hierofante, embora esteja a ele submetida.
Como posso voltar a seu eu, quando poderei voltar a sê-lo? Nem o Hierofante o sabe, ele que sabe tanto. Ele tem o saber a guiá-lo, ela só precisa de poder ser. Ai, tempos…
Voltam as energias e as contradições replicam-se, eu no meio delas, a sobreviver. Fecho os olhos, sou a Imperatriz, abro os olhos, lá está o Hierofante, vigilante. Já não me revolto, conformo-me, como ele pede. Mas vou fechando os olhos, para sobreviver…
Enquanto eu puder ser a Imperatriz por uns momentos, respirar fundo, sentir e deixar correr, ainda que seja por uns momentos, vou mantendo viva a minha essência, nesta morada sagrada que é o meu corpo. O Hierofante intervém no que faço, orienta o que digo, enquadra-me; mas ela mantém-me viva e traz consigo as imagens, os cheiros e sons e memórias ancestrais que me permitem ir sendo um bocadinho feliz…
Imagem : New Age Elements Tarot, de Eleonor F. Pieper, 2018
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