Por Clara Days:
Palavras-chave: sensualidade enquadrada; combinação que dá fruto; alinhamento de corpo e espírito.
Uma é do corpo, a outra do espírito: se a Imperatriz nos conecta com tudo o que é natural e vive, a Temperança pede-nos diplomacia e integração de contrastes, impondo racionalidade à intuição e sensualidade da primeira. Será que se entendem?Não posso deixar de referir que esta vinda regular da Temperança, de há mais de um mês para cá, semana sim, semana não, contracenando com cada Arcano Maior que nos vem inspirar, é certamente um sinal dos tempos. Ela tem aparecido recorrentemente, representando um cenário mais constante, assinalando talvez a vida colectiva que nos pede uma postura a um tempo diplomática e criativa, combinando contrastes com vista a conseguir algo novo e diferente das suas partes.
Entre a Morte e o Diabo, A Temperança é o equilíbrio possível, construído com alma e inteligência. Representa o Princípio de Integração dos Opostos, numa combinação alquímica, como uma tarefa espiritual que nos acompanha, em tempos de pandemia e convulsões sociais. Foquemo-nos então na Imperatriz-Mãe, fecunda e sensível, cheia de força vital, onde se juntam a energia da tigresa e a doçura da ovelha. Ela convoca-nos a viver o corpo em plenitude, conectados com o que é natural, intuindo os outros e as suas necessidades. O que lhe acrescenta a Temperança? Dá-lhe uma dimensão mais espiritual, ou contradiz-lhe a essência? O convívio entre ambas, à partida, parece uma contradição, mas é com as contradições que o Arcano 14 lida por excelência. No entanto, será o nosso desafio conciliar estas essências e atitudes tão simétricas, umas absolutamente primitivas e as outras de contenção e intenção. Entre estes polos andaremos, na semana que hoje começa. Entre o corpo e o espírito, entre o natural e o racional, e será preciso ter Arte. Está ao nosso alcance provar que são conciliáveis, ou mesmo mais do que isso, que são energias que se podem completar uma à outra.
É tempo de viver de bem com o que somos, como matéria e sentidos, mas sem esquecer que o sentir colectivo nos pede equilíbrio e moderação. É como se nos seja pedido que estejamos de bem connosco e com os outros, em diferentes patamares da vida, do individual ao social.Libertemos o nosso corpo, demos-lhe aquilo de que necessita, na nossa esfera privada mais íntima e pessoal – isso é essencial e não deve ser desleixado. Mas é com ele que teremos o ponto de partida para uma atitude social diplomática e elevada, onde cada um possa ser um elemento criativo e construtivo, no meio dos contrastes e contradições a que estamos sujeitos.
Imagem :The Mary-El Tarot, de Marie White, 2012
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