Por Clara Days:
Ideias-chave: independência, consequência; instinto, oportunidade; transgrido mas assumo.
Uma semana para lidarmos com os nossos desejos e vontades, correndo riscos, mas assumindo as consequências dos nossos actos. A vida encarrega-se de nos trazer de volta o resultado das decisões e acções, num ciclo onde o bom e o mau se alternam e podem contrabalançar.
O Diabo segue a sua natureza, os seus instintos, numa absoluta independência que o pode levar a caminhos de transgressão ou comportamentos de risco. Não aceita conselhos, não respeita julgamentos, mas não procura prejudicar ninguém: toma para si as decisões e sofre sozinho as consequências. Desta feita, este retorno cármico é lembrado de moído muito evidente pela presença da Roda da Fortuna, lembrando os ciclos permanentes em que se desenvolve a nossa existência, nos seus diferentes níveis.
Claro que o Diabo não pensa muito, age essencialmente por impulso, sem racionalizar. Há na sua postura libertária arrojo, mas também arrogância: sente-se senhor do seu destino, quando age. Ser desta vez confrontado com as voltas da vida pode ajudá-lo, no sentido de o forçar a reflectir mais antes de tomar uma decisão, ou de antecipar com humildade as consequências das suas acções. Na verdade, a Roda da Fortuna é implacável, pois tanto dá esperança de ascensão aos desprovidos da sorte como destrona os poderosos, obrigando-os a conhecer o outro lado das coisas.
Serão, pois, dias impulsivos, mas onde cada gesto e cada acção ficam carregados de significado e desencadeiam processos de ida e retorno, que nos vão aparecer mais evidentes. Um Diabo, profundamente individualista, quando é apanhado nas voltas da Roda da Fortuna, é confrontado de um modo muito cru com o que se passa fora dele, não pode fingir que não se importa. Para cima, ou para baixo, o que acontecer aparecerá de um modo lógico mas implacável: cada gesto seu desencadeou um processo, é o princípio da causa e consequência.
Não diabolizemos demais este arcano 15, no sentido tradicional do que se atribui ao Diabo, passe a redundância: ele é destemido, verdadeiro, age em defesa própria. Pode cometer excessos, mas não ataca o próximo, sem legítimo motivo. Pode não reconhecer publicamente que errou, mas aceita as consequências dos seus erros.
Venha então a Roda da Fortuna, que é a roda da vida, para fazer cada um de nós cair em si e enquadrar o que lhe acontece num movimento cíclico de mudança, em que sabemos que iremos descer, mais tarde, ou mais cedo, se estivermos em ascensão agora, mas em que há sempre oportunidade de voltar a subir, se estivermos a descer.
Imagem: Ostara Tarot, de Morgan Applejohn, Julia Iredale, Krista Gibbard e Eden Cooke, 2017
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