Por Clara Days:
Palavras-chave: introspecção; retiro; jornada; peregrinação.
A energia que nos inspira para esta semana pede uma paragem, um virar para dentro, na busca interior pelo sentido que a nossa vida possa ter. Afinal, as maiores viagens, são as mesmo as que fazemos dentro de nós…
Chega o Eremita, representando o Princípio da Introspecção.
Apaguem-se as luzes, afastemo-nos da multidão. Os outros ficam de fora nesta jornada, que é de nós para connosco. No tempo do Eremita, a solidão é necessária.
“Porquê?” Eis a fórmula essencial. O intuito não é encontrar outros que sejam causadores ou responsáveis pelo que somos, mas antes entender melhor as causas internas dos nossos mecanismos de funcionamento, o que subjaz e nos condiciona, os medos, as memórias, os anseios mais profundos ou quase inconfessáveis.
O Eremita pede que nos conheçamos e propõe que façamos esse exercício a sós, passo a passo, tacteando o caminho, alumiados pela luz da consciência. No entanto, talvez precisemos de “ferramentas” de ajuda: um guia, um terapeuta, um método; meditação, caminhada, revisão do estilo de vida, e por aí fora…
A ideia de peregrinação, para explicar este Arcano Maior 9, parece-me uma imagem feliz. Há esforço, concentração, propósito e disposição para fazer da jornada uma aprendizagem. Há uma meta, mas para lá chegar o caminho é essencial – o caminho é a chave da ideia de peregrinação. Porque nos dá tempo, porque percorre a distância, porque nos exige sacrifício e proporciona espaço mental para o auto-centramento. Uma peregrinação só se consuma verdadeiramente quando este processo é completo e nos traz aprendizagem sobre nós mesmos.
As imagens das cartas trazem-nos o velho peregrino, geralmente com barba, de capuz e bordão, transportando na mão uma lanterna ou a ampulheta que simboliza o tempo. O cenário é despojado e muitas vezes inóspito, ou nocturno. Quando o caminhante aparece acompanhado, é por animais silvestres, recorrentemente a serpente ou ainda o lobo. Alguns autores apresentam Cerbero, o cão de três cabeças, guardião das portas do mundo inferior. O relevante é que o Eremita anda pela natureza, definindo o seu caminho por entre pedras, neve, silvados, montes e vales, cursos de água, arvoredos. Nunca o encontramos em ambiente urbano, humanizado.
O Arcano 9 está astrologicamente associado a Virgem, signo de Terra em fim de estação: metódico, capaz de aprofundar o conhecimento através da atenção aos detalhes, ao que pode passar despercebido. O número 9, em numerologia, é o do altruísmo e da compreensão. A letra hebraica que corresponde ao Eremita é YOD ou YUD, a mão. O seu título esotérico: “O profeta do Eterno” ou “O Mago da voz do Poder”.
Vamos parar um pouco para reflectir: esta é uma semana em que estaremos mais inspirados para nos dedicarmos ao auto-conhecimento. Procuremos o silêncio, a solidão, ainda que seja apenas por uns bons momentos diários, intervalando verdadeiramente da lufa-lufa dos dias comuns.
Quem somos? De onde vimos? Para onde queremos ir? Para onde podemos ir? Porquê?
Temos à escolha diferentes abordagens metódicas que possam favorecer o auto-centramento e o auto-conhecimento. Podemos caminhar na natureza, praticar meditação, procurar um psicoterapeuta, visitar um templo, fazer uma viagem…
O mais importante é que mantenhamos a consciência plena de que o intuito é compreendermos melhor quem somos, no mais íntimo do nosso ser. Não para arranjar desculpas, não para insuflar o ego, mas para entender e aceitar as causas dos medos, as raízes dos desejos, as memórias mal processadas.
Temos que nos dar tempo. Sem tempo, não se aprende. Caminhemos com o Eremita, pacificamente, concentradamente, em busca de nós próprios…
Imagem : Tarot de Rider-Waite, ilustrado por Pamela Smith (1910)
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