Por Clara Days:
Palavras-chave: meta; síntese; alcance; evolução.
Na semana que passou, o Julgamento (arcano 20) pediu-nos uma avaliação construtiva do nosso passado recente, para agora a carta seguinte, o último Arcano Maior numerado, nos propor que rematemos um ciclo do modo mais coerente, para reiniciarmos numa nova etapa.
Passa-se isto em pleno equinócio, momento de transição dos ciclos naturais. Faz sentido. Há aqui um enorme potencial de renovação, baseado na capacidade de encerrar definitivamente um capítulo, mas sabendo aprender com o que passou, antes de virar a página.
O Mundo, designado por Crowley como Universo e pelo tarot de Osho Zen como Conclusão, é também chamado Transmutação noutras correntes do Tarot. Presume a aproximação de uma meta antes traçada, o que nos permite realizar um exercício de síntese final do caminho percorrido, centrando-nos no que é relevante e não nos perdendo na análise dos detalhes. Com esta compreensão integradora do que passou, criamos as condições para entrar na etapa seguinte mais conscientes, mais maduros e mais capazes de enfrentar o que vier.
Mas o esforço tem que ser nosso. Nenhuma carta vai fazer por nós o trabalho de aprendizagem, apenas pode ajudar-nos a reunir as condições subjectivas necessárias para o fazer. Na semana passada pudemos perdoar as nossas falhas para lavar a alma, agora é tempo de concluir, rematar pontas soltas, deixar cair o que não faça sentido e dar o salto para a frente.
As imagens das cartas evoluíram muito desde os baralhos europeus conhecidos mais antigos (séc. XV). Nessa altura, o Mundo era representado como uma redoma que não tinha um sentido universal – lembremo-nos que, nesse tempo, nem sequer se sabia que a Terra era redonda. Havia geralmente uma personagem feminina, ou anjos, que se relacionavam com essa moldura onde estava contida uma aldeia, uma paisagem, um castelo… Só no séc. XVII se começa a fazer a representação da carta numa configuração que vai perdurar até muitos dos baralhos contemporâneos: a de uma grinalda dentro da qual está uma mulher ou andrógino, desnudo, envolvido numa écharpe esvoaçante que lhe oculta o sexo, em pose de dança ou de triunfo. A personagem tem na mão uma vara de poder e a grinalda tanto pode ser de folhas ou flores como uma serpente enrolada. Não raras vezes, estão representados nos cantos da carta as quatro bestas que representam os quatro elementos primordiais, e por isso também dos quatro naipes: Touro (Terra, Discos), Leão (Fogo, Bastões), Águia (Água, Copas), Anjo (Ar, Espadas). Mas desde o século XX que a proliferação de baralhos e as associações a referentes culturais mais variados nos trazem outras imagens: a Árvore da Vida de inspiração Zen ou pagã, a borboleta, o ninho com ovos, a tartaruga…
O Mundo / Universo corresponde astrologicamente a Saturno, deus-pai do Tempo, planeta das transformações lentas e profundas. A letra hebraica que lhe corresponde é TAU ou TAV, o selo da Criação. O número 21, na numerologia cabalística, representa realização, triunfo e mudanças definitivas. Título esotérico desta carta: A Grande Unidade da Noite do Tempo.
Temos uma inspiração para esta semana que nos pede que tratemos de concluir o que temos pendente, pois só assim poderemos recomeçar.
Há pontas soltas que precisam de ser rematadas, habilidosamente enquadradas numa conclusão coerente; também poderá haver algumas que precisam de ser cortadas, abandonadas, se concluirmos que já não fazem sentido. Mas temos de ser capazes de fazer uma retrospectiva que não se limite a uma análise do que aconteceu, antes nos dê uma síntese das virtudes e falhas que nos permita corrigir a rota e evoluir para novos padrões de comportamento.
Na nossa frente, há um novo ciclo para começar. É nosso dever tentarmos entrar nele já sem o peso dum passado mal resolvido.
Imagem: Aquarian Tarot de David Palladini – 1970
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