Por Clara Days:
Palavras-chave: síntese; meta; visão; renovação.
Vem o Mundo / Universo falar hoje de mudança, no dia em que a Lua Nova nos trouxe o primeiro eclipse de 2019. Olhando para trás, as duas últimas vezes em que tivemos aqui este Arcano como energia para a semana, foi, também, em momentos de significado celeste muito particular: o Solstício de Junho e o Equinócio de Setembro. Verifica-se aqui uma interessante sintonia entre a mensagem desta
carta e alguns momentos de transição naturais, o que não parece um acaso.
O Mundo, designado por Crowley e seus seguidores como Universo, é o último Arcano Maior numerado, o 21, correspondendo ao fim de um ciclo que anuncia o início do ciclo seguinte. É também chamado, no Tarot Osho Zen, de “Conclusão”, e no Egípcio é “Transmutação”. Tudo isto corresponde à exaltação do fim de um tempo, a um momento de passagem que tem potencial para ser transformador.
O mais importante a realçar, no entanto, é que este é o momento em que podemos fazer a síntese final de qualquer processo que tenhamos vivenciado. A síntese presume uma capacidade de elevação acima dos detalhes, exactamente o oposto do que nos sugeriu o Eremita, na semana que passou. Da análise passamos à síntese, onde o sentido geral emerge e nos mostra o que é essencial e relevante, no caminho percorrido.
Assumindo então que o sentido deste Arcano Maior 21 apenas se cumpre se houver a síntese conclusiva do que passou, lembremos que é assim que as principais lições de vida se retiram, e que só com elas devidamente compreendidas e interiorizadas é que o salto para o futuro poderá ser qualitativo. Só resolvendo o passado, dentro de nós, avançaremos para um rumo diferente com efectivas probabilidades de sucesso.
As representações desta carta mudam bastante através dos tempos, desde os Tarots medievais europeus até ao ecletismo dos baralhos contemporâneos, que proliferam. Um elemento visual é constante, ou quase: a representação de um círculo, de um trajecto circular, símbolo do cumprimento de um ciclo que, no processo natural de evolução, deverá ser em curva fechada ou, desejavelmente, em espiral ascendente – um fim que corresponde a um retorno ao princípio, mas num patamar mais elevado. Esse círculo, que pode ser uma coroa de folhas ou ramos floridos, contém o elemento essencial desenhado, geralmente, na carta: uma mulher, com a nudez envolta num véu esvoaçante, numa pose de quase-dança e segurando, como elemento simbólico do seu significado elevado – um bastão. O círculo pode também ser definido, por exemplo, por uma serpente que segura na boca a própria cauda, símbolo de imortalidade. É também frequente a presença de elemtos representativos dos quatro elementos – sejam os “animais de poder” que lhes correspondem (touro, léão, águia, anjo), sejam os símbolos dos quatro naipes do baralho: discos, ou pentáculos, para Terra; bastões, ou paus, para Fogo; copas, para Água; espadas, para Ar. Mais recentemente, animais que simbolizam transformação ou longevidade, como borboletas ou tartarugas, são recorrentes.
Astrologicamente, o Mundo / Universo corresponde a Saturno, pai do Tempo, planeta das transformações lentas e profundas. A letra hebraica que lhe corresponde é TAU ou TAV, o selo da Criação. O seu número, 21, é frequentemente caracterizado como aquele que traz “novos mundos”, com grande potencial de realização. Título esotérico desta carta: “A Grande Unidade da Noite do Tempo”.
A semana anuncia-nos a possibilidade de um virar de página em que podemos estar preparados para olhar para trás com um olhar mais lúcido, compreensivo e capaz de retirar lições. Não é um processo fácil, pois raramente o fazemos por completo, em momentos de mudança.
O Louco, na sua viagem simbólica pelos Arcanos Maiores do Tarot, chega aqui a um destino: culmina a sua tarefa, realiza as suas potencialidades, vai até às últimas sínteses, concretizações e consequências e transcende – para recomeçar, num patamar mais elevado de consciência. Mas o surgimento desta carta, numa tiragem semanal, como esta, é relativamente frequente e não terá um significado tão profundo e radical. No entanto, a essência da mensagem está lá: o tempo de conclusão de um processo, um ponto de viragem que permita o traçar de novas metas, se nos conduzirmos com honestidade e auto-consciência.
Hoje foi a Lua Nova de Janeiro, em Capricórnio, com eclipse do Sol, que abre um ciclo em que teremos, daqui a duas semanas, um eclipse lunar da Lua Cheia do mesmo mês, já posicionada em Leão, com o Sol em Aquário. Será pois um mês propício a decisões transformadoras, mesmo que isso pareça, ou seja, um processo difícil.
A mudança que se anuncia pede-nos responsabilidade e capacidade de trazer as lições do passado para o futuro que agora se define. Foquemo-nos nisso, para alimentar a coragem, tão necessária em tempo de transição.
Imagem: Tarot de Oswald Wirth, 1889
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