Por Clara Days
Palavras-chave: aspiração; espiritualidade; esperança; optimismo.
Nesta semana em que teremos a Lua Cheia de Virgem e o Sol entrará em Peixes, vem a Estrela iluminar por dentro os nossos desejos e anseios. Mais do que uma luz celeste, este Arcano Maior 17 representa a luz interior que se alimenta de esperança e nos faz acreditar que tudo pode ser possível, que tudo pode ser resolvido, que tudo acalmará. É a força invisível que alimenta a esperança dos injustiçados, a fé dos resistentes, a confiança daqueles que sabem que tudo vale a pena, enquanto a alma não for pequena.
Todos temos uma Estrela dentro de nós, a incitar-nos para avançar. Ela representa no Tarot o Princípio de Renovação de Categorias, a capacidade de elevação e a transformação que pode acontecer, por via dessa elevação. É como que uma antena entre o Eu e o Universo, no sentido de permitir que os anseios mais íntimos e verdadeiros possam ser o detonador da mudança que gera mais mudança e que pode mudar destinos.
A escolha desta ideia de uma estrela como símbolo de elevação espiritual, de fé e de confiança, só pode advir dos muitos séculos em que foram as estrelas que ensinaram caminhos e impediram caminhantes e navegantes de se perderem na sua rota. No meio da tempestade, pode haver confusão, mas quando o céu se abre lá estão elas, silenciosas e permanentes, para nos guiar. O Tarot de Osho Zen chama mesmo a este arcano “O Silêncio”.
Em alguns, raros, baralhos, nesta carta estão representados astrónomos em observação do céu. Mas curiosamente, na grande maioria dos casos, desde o século XV, nas imagens das cartas a figura principal é uma mulher, sendo a estrela um elemento do cenário. Trata-se de uma estrela cujo número de pontas pode variar, mas sempre com um vértice no topo: se são cinco, representa a inteligência humana; se são seis (tal como surge na lanterna do Eremita), a união do Eu humano com o Eu divino; se são oito, o mais frequente, simbolizam o humano aperfeiçoado, com o seu potencial desenvolvido.
Mas fixemo-nos na mulher: na maioria dos baralhos, não por acaso, está totalmente despida. Nessa nudez mostra a pureza e verdade absoluta das ideias e sentimentos que simboliza. Debruça-se frequentemente sobre um curso de água, ou um lago, lugares simbólicos das emoções, onde se pode espelhar. Na maior parte das representações tem nas mãos duas vasilhas que derrama: uma, na água, outra, sobre o solo. Pode ter a companhia, próxima ou mais longínqua, de animais simbólicos de divindade, poder ou transformação: o flamingo, a borboleta, o mocho, o pavão, a ave exótica… Baralhos mais recentes podem suprimir a mulher, mas recorrem sempre a elementos comuns aos baralhos tradicionais.
Este Arcano Maior 17 está associado astrologicamente a Aquário, signo de Ar, também representado por uma figura humana que despeja uma vasilha de água, que corresponde à elevação dos valores do colectivo. A letra hebraica que se lhe associa é HE ou HETH, a abertura, a janela. O seu número passa uma ideia de pureza e espiritualidade – são 17 os gestos litúrgicos e as palavras que compõem a chamada à oração da tradição muçulmana. O título esotérico desta carta tem duas designações: “A Filha do Firmamento” ou “O Habitante entre as Águas”.
A Estrela inspira-nos para que assumamos o mais verdadeiro que há em nós, sem receios nem vergonha. Pede que confiemos nos sentimentos puros e nos desejos sinceros, pois só a partir deles poderemos elevar-nos e progredir como pessoas, e também espiritualmente. Convida-nos a pôr de lado disfarces, comportamentos convencionais, ou carapaças protectoras das nossas feridas passadas.
Pode ser uma atitude íntima, pode ser pública, mas tem de ser essencialmente verdadeira e corresponder ao melhor que há em nós. Não há artifícios nem enganos: quando temos a Estrela a inspirar-nos, só podemos ser quem somos. Melhor: a Estrela acorda em nós a criança interior, a confiança no futuro, a capacidade de nos deslumbrarmos com as coisas mais simples, esquecendo os juízos formais que nos fazem dividir o mundo entre o que é “importante” e o que o não é.
Nesta semana de Lua Cheia, deixemos que a Estrela nos inspire, como na frase de Saint-Exupéry, quando a raposa contou o seu segredo ao Principezinho: “on ne voit bien qu’avec le coeur – l’essentiel est invisible pour ler yeux” (só se vê bem com o coração – o essencial é invisível para os olhos).
Imagem : Tarot Soprafino de F. Gumppenberg, 1835
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