Energia para a Semana 10-17/3/19 – XV O DIABO

Por Clara Days:
Palavras-chave: independência; instinto; compulsão; libertação.

Na sequência das duas semanas de interiorização que tivemos, vem agora o Diabo, instintivo e libertador, ajudar-nos a deixar fluir quem verdadeiramente somos, ainda que as consequências que daí advenham possam ser incómodas.
A Lua levou-nos ao nosso lado sombrio, em busca de entendimento. O Diabo impele-nos a viver o nosso ser instintivo para além da culpa ou das regras, e pede que sejamos capazes de encarar todas as noções de “pecado” que temos inculcadas como restrições, a que nos podemos acomodar, mas de que também nos podemos libertar. Dá-nos a liberdade de escolha ao nível pessoal, para além dos limites, assumindo a respectiva responsabilidade por inteiro. Com o Diabo eu posso transgredir, mas conscientemente e aceitando as consequências.
A maioria dos autores apresenta-nos um Diabo perverso e dominador, que nos leva a comportamentos aditivos – “tentando-nos” –, sobrevalorizando o sexo e podendo acorrentar-nos às nossas compulsões e dependências. Certo: a total liberdade também permite escolhas de risco. Mas, no fundo, a maioria dos autores faz a interpretação da carta impregnada de valores morais colectivos, que derivam da cultura judaico-cristã que demoniza (isso mesmo…) o comportamento natural, o instinto e o prazer.
Para mim, o Diabo não é irracional, nem perverso: ele escolhe o respeito de cada um por si até às últimas consequências, contra tudo e todos, se necessário. Além disso, ele respeita e dá vazão ao nosso lado instintivo, aquele que trazemos nos genes e que nos permite pressentir o perigo e procurar a sobrevivência a todo o custo. A educação ensina-nos a controlar ou reprimir o instinto, o Diabo ajuda-nos a libertá-lo, quando disso precisamos.
O Tarot de Osho Zen chama a esta carta 15 “Os Condicionamentos” e outros designam-na como “Paixão” ou “Sombra”.

As imagens da maioria das cartas correspondem à visão do imaginário cristão, representado sobretudo a partir da Idade Média, relativamente a esta personagem: com cornos, peito de mulher, rosto na barriga, patas de leão ou de cabra, asas de morcego… A personagem aparece como criatura híbrida, cujas partes do corpo se referenciam a seres humanos e a outros animais. Acompanham-no dois outros “diabos” (uma feminina e um masculino) acorrentados a ele ou ao seu altar. Mas a representação de Frieda Harris no Tarot de Crowley mostra-nos antes um bode sagrado, com a inscrição do “terceiro olho” da sabedoria na testa, rodeado de símbolos de poder e espiritualidade – ele aproxima-se mais de Pã, o deus grego dos bosques. Hoje em dia, os inúmeros baralhos que vão sendo produzidos procuram inspiração nestas e noutras fontes, cada vez mais eclécticas.
Astrologicamente, o Diabo do Tarot é associado a Capricórnio, signo cardinal de terra e de gestação. A letra hebraica que lhe está associada é AYIN, o Olho, como fonte do carácter. O número 15, na numerologia cabalística, significa magnetismo pessoal. Título esotérico desta carta: “Senhor das Portas da Matéria”, ou “Filho das Forças do Tempo”.

A energia do Diabo vai ajudar-nos a conseguir ser mais autênticos, na semana que inicia, e, se calhar, mais radicais, no modo como exprimimos a nossa vontade. Ainda que que não demos “rédea solta” ao desejo instintivo de afirmação, é natural que haja como que uma catarse íntima que será sempre libertadora.
Não precisamos de nos reprimir, se a vida o pedir. Trazer à luz do dia a nossa sombra pode ser um enorme avanço num processo de construção e afirmação pessoal. Certo, haverá consequências, mas nada que ultrapasse a nossa capacidade de as resolver ou ultrapassar. Se escolhermos o caminho da autenticidade e agirmos em conexão com o instinto, fá-lo-emos com consciência e responsabilidade.
Eu sei que o Carnaval, tempo de transgressão autorizada, já passou. Mas nunca passa o tempo em que cada um de nós pode precisar de soltar o seu lado politicamente incorrecto, o mais verdadeiro e incómodo. O Diabo ajudar-nos-á, nessa libertação.

Imagem : Mythic Tarot, de Liz Greene e Juliet Sharman-Burke (1986)

Clara Days

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