Por Clara Days
Palavras-chave: criatividade; manifestação; comunicação; engenho.
O Mago é o número um, aquele que inicia um ciclo, trazendo consigo uma energia activa e produtiva que precisa de ser transformada em gestos concretizadores, pois a sua essência é de manifestação e de intervenção. Para ele, só há verdadeiramente vontade quando esta se manifesta e um poder só existe se for exercido.
Do pensamento à comunicação, da comunicação à acção, da acção à transformação criativa, eis o percurso. E isto significa que o que se pensa só faz sentido, para o Mago, se for transmitido, assim como o que se transmite só tem valor se se concretizar, na acepção mais literal da palavra.
Ele encarna o Yang da filosofia oriental, dinâmico e activo, “masculino” (no sentido simbólico primitivo). No plano humano, representa o consciente, aquela parte de mim que se afirma como o “Eu” – a vontade, os conhecimentos, a comunicação e a criatividade, sobretudo na sua aplicação à prática. É o que eu mostro e o que trago para o mundo e para os outros, a minha contribuição para transformar o ambiente em que me insiro.
O Mago é criativo e engenhoso, é também um improvisador: usa o que tem à mão como ferramenta para o seu trabalho.
O Tarot de Osho Zen chama-lhe “A Existência”, outros autores e baralhos designam-no como “Domínio” (no sentido de “mastership”), “Empreendedor” ou simplesmente “O Mágico”.
Com efeito, nos baralhos mais antigos, ele era o que em francês se designa por “Bateleur”, um artista de feira / ilusionista que montava a sua banca e tanto poderia fazer pequenos arranjos como truques para espantar e iludir o público. As imagens de época retratam essa realidade e vão evoluindo até, no séc. XVII e pelo séc. XVIII afora, em França, se configurar a personagem como tendo um chapéu ondulado que lembra um 8 deitado, assumindo progressivamente uma postura em que tem numa mão um bastão que eleva, enquanto que a mão outra aponta o chão. Sobre a banca, os objectos-símbolo dos quatro naipes: o pau, a taça, o gládio, a moeda. Ao longo do tempo, a figura começa a reforçar uma pose mais majestática, que vai impregnar de sentidos espirituais ou rituais o que começou por ser um simples “mágico”, um aldrabão de feira. O 8 deitado do chapéu destaca-se e passa a “lemniscata”, símbolo do infinito; aparece o caduceu, bastão com duas serpentes enroscadas e asas, símbolo do deus grego Hermes, associado esotericamente ao equilíbrio moral; podem ainda surgir elementos simbólicos de filosofias ou rituais de vários quadrantes, desde o círculo “yin / yang” a uma galinha preta, velas acesas, ou animais significativos como o corvo, o mocho, ou o lagarto. O Mago pode ter asas, nas costas, no capacete ou nos pés. A figura tanto pode parecer espiritual e iluminada, como sinistra ou ameaçadora; pode parecer um sacerdote, um feiticeiro ou um alquimista.
Este Arcano Maior está astrologicamente relacionado com o planeta Mercúrio, da comunicação. A letra hebraica que lhe está associada é BETH, ou BEIT, a Casa. O seu número 1 representa singularidade e pioneirismo. Título esotérico da carta: “O Mago do Poder”. Representa o Princípio Masculino Universal.
Temos uma semana em que somos inspirados por uma energia que pede comunicação, criatividade e manifestação. Será talvez o tempo para exteriorizar aquilo em que podemos ter andado a “magicar”. Isto implica assumir os riscos inerentes, pois o que era privado passa a público.
A mente não vai parar de trabalhar, mas teremos de levar as coisas mais longe. Temos que começar a agir, ainda num movimento muito individual e espontâneo. No entanto, poderemos conseguir despertar elementos de criatividade, que nos fazem encontrar pequenas soluções, inovadoras e pessoais, que abrem caminhos.
Não é tempo de contemplação, nem de espera. Como o avançar da Primavera, é como se haja em nós um frenesim criativo que nos impele a fazer acontecer. Pode ser ainda em pequena escala, mas é um começo.
Imagem : Zillich Tarot, de Christine Zillich (2018)
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