Por Clara Days:
Palavras-chave: isolamento; introspecção; caminho; auto-conhecimento.
Que posso saber eu do mundo, se não sei de mim? Como posso conhecer os outros, se me não conheço? Será possível tomar decisões para a vida, sem ter clara a consciência dos valores mais profundos que reflectem o meu verdadeiro ser?
Quem sou eu, como sou eu?
O Eremita traz-me a coragem para seguir, sozinho, numa viagem interior, no escuro, apenas podendo, momento a momento, ver e aprender o passo seguinte. Só eu posso trilhar esse caminho, ninguém mais o poderá fazer, em meu lugar.
É de mim para comigo, é de mim por mim.
Num cenário mundial onde as esperanças estão tão condicionadas, num tempo astral de paragens e retrogradações, virar-me para dentro é um modo de procurar a sabedoria que depois me ajude a seguir na vida. Assumo-me como o Eremita caminheiro, o peregrino que se procura a si próprio, focando-me intensamente em cada passo, em cada descoberta, em cada aprendizagem interior.
É um tempo pessoal que me dou.
Não fujo dos outros, apenas me afasto e me foco, como a águia solitária que sobe aos céus e varre com o olhar cada pedacinho de horizonte, em busca do alimento que levará às suas crias. Fecho-me para me procurar, procuro-me para depois me poder vir a abrir, mais conhecedor, talvez mais sábio – desejavelmente, mais sábio.
Não é um compasso de espera, não é um tempo perdido, é um modo diferente de estar e de me focar. É fundamental que eu compreenda que, no caminho do auto-conhecimento, não pode haver precipitações, nem pressa: diligentemente, cada passo que dou precisa de ser lento e seguro, e em cada encontro com uma parcela da minha mais íntima verdade eu preciso de ver, ouvir e sentir, com atenção e detalhe.
No meu mundo interior há medos, esperanças, sombras, convicções, dúvidas… Com o Eremita, questionarei cada uma. Procurarei entender de onde vem, o que faz ali, que razão de ser lhe assiste. Estarei disponível para prestar atenção plena a cada um desses pormenores, atenuando a emoção e valorizando a compreensão. Olho para cada canto da minha vida interior como um trabalho que me ocupa, com o olhar do investigador, com a luz do saber, simbolizada na lanterna que trago comigo.
Como o Eremita, não quero tropeçar no caminho, tenho que dar segurança a cada um dos meus passos. Se encontro uma esperança, esforço-me por validá-la; se encontro um medo, procuro-lhe a raiz, provavelmente numa experiência passada; se encontro uma convicção, questiono-a; se encontro uma dúvida, faço por esclarecê-la. Se encontro uma sombra, ilumino-a, para lhe conhecer os contornos, as cores, os detalhes…
Levará o tempo que levar, porque quem inicia um processo de auto-conhecimento sabe que não pode prever o espaço de vida que essa busca demorará. O que interessa é que seja bem feita, com total disponibilidade interna, com toda a atenção.
Sou peregrino, dentro de mim. Na viagem do Eremita, o que importa não é o destino, é o caminho.
Imagem : Tarot Sacred Sites, de Lo Scarabeo, 2012
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