Por Clara Days:
Palavras-chave: sensibilidade; compaixão; fisicalidade; Terra.
Pés na terra, olhos fechados, venha um momento para só ser e deixar acontecer.
Ela vem chamar-nos ao corpo, a Imperatriz, embora a mente ainda precise de percorrer um longo caminho. Pede que nos sintonizemos com a terra, com tudo o que é natural e sensível. Vem chamar-nos ao corpo porque o não podemos descurar e tudo o que se nos enovela na cabeça nos pode afastar da harmonia física.
Uma coisa sei: os tempos ainda nos obrigam a ser o Eremita peregrino, caminhando dentro de si, bem como nos compelem a buscar as verdades mais importantes, com o Hierofante. Assim tem sido, assim será, está para durar. Mas a Imperatriz vem agora, como um intervalo, um apelo momentâneo, um grito da nossa natureza a pedir que a cuidemos.
A Imperatriz é um respirar fundo, de que muito precisamos.
O nosso corpo é condição da nossa existência, templo sagrado de cada um. Mais ninguém cuida dele como nós o podemos fazer. Tal como a nossa Mãe terá feito, um dia, no passado – e, se não o fez, devia. Tal como fazemos aos nossos filhos e aos seres vivos que temos à nossa guarda. Mas entre nós, adultos e autónomos, cada um tem o dever de cuidar de si.
Pés no chão, sentidos acordados, procuremos o que nos é natural e intuitivo.
Precisamos de sol, de ar puro, de água limpa. Precisamos de ouvir o cantar dos pássaros, o marulhar das águas, o silêncio das noites. Precisamos de viver a alvorada e o pôr do sol, garantes permanentes de que a ordem natural das coisas continua, apesar de todos os desmandos e perigos que os humanos provocam ou pressentem. Precisamos de cuidar.
A Imperatriz conduz-nos nesse caminho simples e terreno, em sintonia com as plantas e os animais. Ela cuida de si, dos outros e da Natureza. Cuida de que recebam água e alimento, dá carinho e inspira aquela segurança primária que nos deixa adormecer sem dar por isso. Mostra-nos a beleza das pequenas coisas… Ela vela por cada um de nós, Mãe-Terra.
Mas os tempos colectivos andam tão difíceis, há tanta incerteza no caminho… respiremos fundo, por um momento. A aflição bloqueia-nos até a respiração, que é o mais natural de tudo em nós. Respiremos fundo e paremos de pensar, voltemos ao que há de mais simples e primitivo. Por uns momentos só, se assim tiver que ser – mas cuidemos de nós.
Cuidemos do que nos alimenta, da água que bebemos, da postura do nosso corpo, do nosso sono. Acertemos o passo com os dias e as noites, não violemos as regras mais básicas do bem-estar. Atentemos na saúde, que tão importante se torna, nos dias que correm. Protejamo-nos dos perigos, protejamos os outros.
O peso do tempo histórico que vivemos abate-se nos nossos ombros, oprime sonhos, condiciona projectos, compromete o devir de um modo avassalador. Que podemos fazer? O Eremita peregrino faz-nos pensar, o Hierofante guia-nos para procurar o saber, mas quem cuida de nós, no mais elementar de tudo? Quem? Cada um tem de cuidar de si, não podemos adoecer todos, não podemos.
Pés na terra, sentidos alerta, deixemo-nos apenas estar. Respiremos fundo. Sintamos o nosso corpo, oiçamos o que nos pede. A Imperatriz explica: este momento tem de ser para cuidar.
Nota: tirei duas cartas, em dois baralhos distintos, como costumo. Saíram, repetidos, os Arcanos inspiradores das duas últimas semanas – o Hierofante e o Eremita. Concentrei-me, pedi uma clarificação, repeti a tiragem: veio a Imperatriz.
Imagem : Tarot de John Bauer, 2018
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