Por Clara Days :
Palavras-chave: eliminação; transformação; metamorfose; renascimento.
Sou inominável, o grande tabu, a palavra mais temida, porque me tomam como sendo o fim. E, no entanto, eu sou o momento que anuncia o recomeço, a passagem de um tempo para outro, de um estado para o seguinte, porque o mundo novo que represento não pode coexistir com o anterior.
Sou a ruptura que permite a
transformação, a renovação, o renascimento. Destruo, para poder reconstruir, em novas bases, com novas premissas, recorrendo a diferentes ferramentas. Sou Morte mas sou a parteira da vida, de uma nova vida, da vida que vem a seguir.
Eu anuncio o tempo de recomeçar.
Mas, inegavelmente, o meu primeiro momento é de destruir. Preciso do espaço que foi ocupado para instalar a novidade; o que foi deve sair, para entrar o que vai ser, porque os dois não cabem no mesmo lugar. Sei o quão assustador isto se pode tornar.
Sei como custa vermos cair por terra o que foram sonhos, certezas, concretizações, quando, de repente, já não servem. Sei como é importante para cada um agarrar-se ao que conhece, mesmo quando o que conhece é uma pedra antiga que o afundará na tempestade do presente.
Eu anuncio futuro, isso é o mais importante.
Morte e vida entrelaçam-se para que tudo continue, num permanente abraço em que uma alimenta a outra, uma é condição de existência, de sobrevivência, para a outra. Assim é a lei universal.
Mas como consigo virar-me para a frente, quando sofro a enorme dor da perda? Como consigo ver num fim a alvorada de um novo estar, quando trago o coração cheio com o que tive e que já não tenho? É esse o desafio, o enorme desafio, a matriz que origina os maiores questionamentos, as dúvidas mais intensas, as crenças mais transcendentais.
Viver com esta Morte é estar disposto a olhar para a frente, mesmo quando o que fica para trás deixa um rasto profundo de saudade. É conseguir resistir ao desespero, quando tudo está por terra, e renascer das cinzas, disposto a recomeçar. É aceitar os tempos que se sucedem como crescimento e não como uma sequência de perdas ou ganhos. É estar disposto a viver a transformação, a metamorfose.
Sou Morte. Serei inominável, temida, destrutiva… mas sou o garante de que a vida continua.
Imagem – Tarot In Between, de Franco Rivoli e Janine Worthington, 2019
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