Por Clara Days:
Palavras-chave: moderação; combinação; integração; espiritualização.E se eu conseguir juntar o que parece inconciliável e dessa junção surgir uma nova oportunidade? Se da combinação de contrários eu obtiver, em vez da soma das suas qualidades, algo diferente e inovador? Se do preto com o branco, em vez de cinzento, me aparecer um arco-íris de mudança?A Temperança / Arte traz-me o poder de equilibrar, mas também o de transformar. Junta a água ao fogo, sem que a primeira ferva ou o segundo se apague, o doce ao amargo para um novo sabor, o certo ao errado para uma nova solução. Faz de mim um agente de mudança, convocando-me ao mesmo tempo a buscar harmonia e a encontrar um equilíbrio dinâmico e criativo.
É do processo que se trata aqui, não propriamente do resultado, embora seja o resultado a nossa meta. Não é o “que fazer”, mas o “como fazer”. A energia em presença avalia a realidade e pega nela, com moderação e espírito inovador ao mesmo tempo. Permite as transformações qualitativas, na interacção dos fluidos que se deslocam entre duas vasilhas, na mistura borbulhante do caldeirão alquímico.Mas é também importante que o resultado possa ser um avanço para o lado do “bem”, do equilíbrio, do apaziguamento. A Temperança usa a inteligência, mas também a diplomacia. Desconstrói as partes em conflito para reconstruir um todo em novas bases.
Vivemos tempos contraditórios, disso ninguém duvida. Há luta, confronto, conflito. A Arte é a de conseguir transformar o conflito numa mais-valia, retirando o melhor de cada parte e recriando a partir da respectiva junção, para obter um “melhor”, aceite por todos. Não é fácil, certamente, mas é esse o desafio.Há que integrar os opostos, pede a Temperança. E se, em vez de me deixar estar num lugar de vítima passiva, eu for antes um agente de transformação qualitativa?
Imagem 1: Tarot Della Rocca, de Ferdinand Gumppenberg, circa 1830
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