Por Clara Days:
Palavras-chave: Ela – forças da vida, natureza do ser. Ele – regulação social, autoridade.Ela é o três que vem da frutificação de um mais um, ele o quatro do quadrado, da estabilidade. Ela é o sentimento, ele a acção. Ela é receptiva e gentil, ele regulador e assertivo. Os dois vivem em nós, uma equipa, a Mãe e o Pai simbólicos que nos deram estrutura e fizeram de nós quem somos.
Vieram juntos, esta semana, não gémeos, antes complemento um do outro, Imperatriz e Imperador. Vieram lembrar-nos que a imposição das regras colectivas, que nos organizam agora, não nos pode fazer descurar a busca pessoal pelo bem-estar e felicidade a que somos obrigados pela nossa natureza. Sem isso, a nossa sobrevivência fica muito aquém do elementar bem-estar, que merecemos e de precisamos.São regras que aceitamos como necessárias, soldados que somos deste exército em luta contra uma força maior que nos pode destruir, um a um, sem piedade. O Imperador está ao comando, servo de um bem comum. Mas continua a haver, para cada um, o dia e a noite, sol e chuva, choro e riso, sonho, desejo e medo. E isso, só a Imperatriz entende; precisará ela de se sujeitar?
Eis o dilema que vamos sentindo, entrincheirados por trás das nossas máscaras, à espera das vacinas, aceitando ordeiramente confinamentos que podem ser protectores, mas não têm o poder da salvação. Acatamos, sujeitamo-nos, sofremos as consequências das restrições a nível colectivo e individual – como podemos continuar a ser felizes dum modo singelo, mais natural, celebrando o nosso corpo nos desejos e nos prazeres, conectando-nos aos outros pelos afectos mais simples e directos?É esse o esforço que a Imperatriz nos pede: ela sabe que só os momentos felizes são o antídoto para sobreviver ao veneno do medo e das imposições contra-natura relativas à pandemia. Temos o dever de encontrar momentos felizes, de os proporcionar, de os criar. Temos o poder de o fazer, se dermos espaço interior para a expansão natural do nosso ser.
Há flores que nascem no meio do cimento, há pássaros que cantam durante a guerra. Assim nós podemos investir nas pequenas coisas que nos fazem felizes, as mais pequeninas que sejam: ver crianças brincar; tomar um banho quente; espreguiçar-nos ao sol; ouvir música de olhos fechados; sorver uma bebida saborosa, devagar; acariciar um animal de estimação; regar uma planta; dançar animadamente, sem ter medo do ridículo; escrever uma carta a alguém de quem gostamos; fazer arranjos na nossa casa; pôr na pele um creme macio; telefonar a um familiar solitário; contar anedotas e rir delas; reler um livro especial…
Tanta, tanta pequena coisa que a Imperatriz nos inspira…Por fora, para fora, alinhamos com ele; por dentro, para dentro, vivamos com ela. Será possível? Tem de ser, se queremos chegar ao fim disto com o mínimo de saúde mental.E agora olho para o que escrevi e penso: estarei a fazer batota? Estarei a resvalar para os lugares-comuns e a querer dar conselhos de almanaque, a pretexto do Tarot? Tiro sempre cartas de dois baralhos, todas as semanas escolho a que parece mais acertada. Hoje, fiquei com a Imperatriz a olhar para o Imperador, ela primeiro, ele a seguir, ali a par, virados um para o outro. Não fui capaz de escolher, acho que não vieram juntos por acaso.Que me dizem os leitores?
Imagens 1 e 2: Tarot of the Sevenfold Mystery, de Robert M. Place, 2013
Boa noite Adoto receber Rosita Iguana , boa informação,muito bem escrito claro e direto e as imagens sempre com muita pinta
Obrigado
Henrique Bilbao Fernandes