Por Clara Days:
Palavras-chave: desapego regenerador; avanço reparador; ultrapassagem.
E vem agora, seguro e temerário, o Carro, representando o Desapego. Vem a coragem de partir para longe de onde já não faça sentido, ainda que sem uma meta definida para perseguir. Cortam-se amarras, olha-se em frente e seguram-se as rédeas, para controlar o rumo a par e passo, sem demora. Venha o que vier, há alento para mudar de lugar e a disposição de assumir, a cada momento, as escolhas que forem necessárias.Só que o passado deixou rasto em nós e é preciso saber geri-lo, pois nada do que vem de novo pode ser bom e resultar, se não houver uma relação pacificada com o que aconteceu atrás. O Julgamento fala de perdão e absolvição, e essas são as chaves para uma verdadeira renovação; se assim não acontecer, a nossa viagem estará muito mais condicionada.
Lembremo-nos da couraça que protege o condutor do Carro, uma carapaça feita do receio de voltar a ser ferido. Para não ser magoado de novo, ele não arrisca a proximidade, o encontro com os outros – e perderá as oportunidades de felicidade que esse encontro lhe pudesse trazer. Escondendo a sua vulnerabilidade, reprime também a sensibilidade, priva-se de emoção que o faça vibrar. O apelo do Julgamento pode ser então o segredo – na verdade, se o condutor do Carro abrir dentro de si o chamamento transformador que lhe dá acesso à regeneração, poderá mudar internamente; caso contrário, a mudança será apenas de lugar.Uma mudança de cenário traz certamente outras visões, permite novas abordagens, mas fazê-lo de mente aberta é bem diferente de o fazer constrangido pela dor do remorso. Se arriscar o desapego exige coragem, libertarmo-nos do peso da culpa pode exigir ainda mais e há que saber tirar lições, dissolvendo as recriminações, e assim, em vez de encetarmos uma mera fuga para a frente, podermos antes virar uma página dentro de nós.
Estaremos capazes de recuperar do passado recente os ensinamentos e relevar as respectivas falhas? Saberemos perdoar-nos e superar o receio do julgamento alheio? Estaremos preparados para partir e desapegar, escolhendo novos destinos? Teremos a coragem de assumir a nossa vulnerabilidade, ao encetar uma nova viagem?Serão estas as energias inspiradas pelas cartas na semana que começa, mas sobre elas paira, como tem sido, a necessidade de moderação imposta pelas circunstâncias externas. A sombra da Temperança cobre tudo, mais uma vez. Convém não o esquecermos, porque o seu tempo não acabou, nem parece dar sinais de vir a acabar.
Imagem: New Era Elements Tarot, de Eleanore F. Pieper, 2018
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