Por Clara Days:
Ideias-chave: conhecer por dentro, equilibrar por fora; introspecção e moderação; auto-conhecimento com criatividade.
Por muito que, cá fora, a vida nos vá pedindo ajustes e compromissos, há uma viagem que sempre teremos de fazer sozinhos, que é a do auto-conhecimento. Vamos em busca do que nos assombra, do que nos motiva, numa busca silenciosa e íntima que nos permite analisar, peça a peça, a estrutura do nosso ser. O Eremita dá-nos uma lanterna e incita-nos a prosseguir, procurando em cada recanto de nós mesmos os princípios e valores a partir dos quais nos contruímos. O Eremita é metódico, concentrado, está focado e não desiste: cada pedra será levantada, cada esquina será contornada. Precisa de silêncio, não tem pressa e, para ver o caminho, tem apenas a luz que transporta. Desta vez, vem com ele a Temperança, aquela que nos ensina a combinar contrastes, a moderar conflitos, a procurar consensos e compromissos. Para este Arcano 14, nenhuma realidade tem uma só face, nada do que se contradiz a inquieta.
A Temperança mora no olho do furacão, em tempos de tempestade, aquele lugar calmo e único de onde pode ver o turbilhão das forças que se chocam como matéria-prima para novas saídas e novas soluções. Ao fechamento do Eremita acrescenta-se agora a abertura da Temperança. Ou, dito de outra maneira: perante a necessidade de lidar com acontecimentos e situações que nos desafiam por serem complexos e contraditórios, podemos agora olhar para dentro e procurar em nós as ferramentas pessoais a utilizar para melhor fazer acontecer. Conhecer por dentro, para equilibrar por fora, é esta a proposta.Tenho em crer que o olhar criativo da Temperança dá mais oxigénio e vida à peregrinação do Eremita. Lidar com contradições é da essência da matéria, assim temos também contrastes internos que podemos combinar. A dúvida está em saber, na acção conjunta destes dois, se o mais importante é compreender o que está dentro ou o que se faz com isso, para fora.
Dependerá de cada um, das suas características, das suas circunstâncias, pôr mais ênfase dentro ou fora.Em última análise, a introspecção é um método, não um fim. Por isso, a viagem do Eremita tem de vir a produzir efeitos para fora, ou não faz sentido. O exercício do auto-conhecimento ou se completa na vida concreta ou é inútil. Pode não ser simples, pode não ser imediato, mas é assim.Quanto tempo demora este processo? Certamente algum, inevitavelmente mais do que pode parecer, à primeira vista. O modo analítico que o Eremita tem de ver os pormenores de que somos feitos permite depois a síntese criativa que a Temperança nos favorece. O tempo que se perde com este processo será tempo ganho, certamente.
Imagem: Anna K. Tarot, de Anna K., 2013
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