Por Clara Days:
Ideias-chave: correr riscos, mas moderados; desafiar dificuldades combinando contrastes; medir passos num caminho novo.
Ora aqui está um desafio interessante, para inspirar a semana que nos leva até um eclipse do Sol, no dia 4. De dentro para fora, somos o Louco – infantil, desassombrado, optimista, viajando sem bagagem de passado. De fora para dentro, temos a Temperança a sugerir-nos que apliquemos a nossa criatividade na superação dos contrastes da vida pela combinação dos respectivos elementos. A energia de expansão que já nos vem da semana passada torna-se agora mais leve e temerária, solta de amarras ou compromissos.
É como se possamos estar disponíveis para esquecer tudo o que sabemos e aprender tudo de novo, sem medo de errar ou de encontrar obstáculos. A dose de inconsciência que esta atitude acarreta é, no entanto, fortemente temperada pela força das circunstâncias – e as circunstâncias, temo-lo sabido pelos meses que já passaram, vêm simbolizadas na carta da Temperança / Arte, recorrente e contentora, a pedir que consigamos elevar a atitude que temos perante as dificuldades combinando o que contrasta ou se opõe, dissolvendo os conflitos para acordar as partes e com elas fazer novas misturas.
Até onde vamos arriscar, até onde vamos exercer a diplomacia da contenção? Acredito que o doseamento destas energias de sentidos contrários seja de acordo com quem cada um é, em combinação com a intensidade da pressão externa que o afecta. As margens de liberdade dos dias que correm são limitadas, e mais para uns do que para outros. No entanto, vir o Louco para acompanhar este eclipse do Sol não pode ser desvalorizado. Ele é a figura central do Tarot, o viajante. Zero ou infinito, é o mais ingénuo, ou talvez o mais sábio, que, de tanto saber, sabe também que esse saber se pode resumir às coisas mais simples de todas.
Só sei que nada sei e atiro-me à vida em busca de mim e dos outros…Só a pandemia está cá, com todo o seu cortejo de complicações. Não desarma, não dá margem para a despreocupação. Traz as vestes da Temperança, ou Arte, uma versão criativa da contenção, lembrando que a alquimia se faz unindo o que é primitivo e banal para atingir o sublime. Talvez se resuma a pouco, afinal. Sou Louco, mas a vida não está para demasiada loucura. Preciso de aprender a dançar na corda bamba, gerindo o sonho e a realidade com arrojo e criatividade.
Imagem : Spiritsong Tarot, de Paulina Cassidy, 2017
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