Por Clara Days:
Ideias-chave: pertencer e comunicar; criatividade na conformidade; educação e acção.
Cumpro as regras ou descubro novos modos de resolver os problemas? O que é mais importante para mim: ter a protecção da ideologia e da moral do grupo a que me sujeito ou, sozinho, encontrar saídas criativas para a situação em que me encontro?
O Hierofante pontua de novo, esta semana, sinal de que o cimento cultural e ideológico que dá a identidade colectiva continua a ser essencial para lidar com as circunstâncias. Há nele um apelo a que se encontrem valores comuns, à luz dos quais nos possamos juntar e congregar, ainda que seja importante que esses valores se aprofundem ou clarifiquem. Em tempos, nestas leituras semanais, pareceu que a carta da Temperança representava o peso da pandemia, saindo recorrentemente; talvez que, agora, o Hierofante simbolize a energia que nos pode ajudar a enfrentar a possibilidade de uma guerra que já começou e se pode generalizar. Para quem, como eu, vive na Europa, o Hierofante poderá ser a inspiração para a mobilização colectiva em torno da causa ucraniana, que une os diversos quadrantes do nosso sentir comum.
Mas, desta vez, ele vem acompanhado do Mago, símbolo de comunicação, criatividade e poder individual. O Mago é aquele que procura sempre uma saída e resolve os problemas com habilidade e eficácia, usando os recursos que a vida lhe traz. Para o Mago, não há impossíveis, e ele é actor da possibilidade. Mobiliza-se para encontrar saídas, soluções, com uma notável velocidade de raciocínio e usando o seu poder intelectual para intervir de uma forma nova e original.
Em teoria, estes dois Arcanos têm diferentes sistemas de pensamento, um virado para a conformidade, o outro para a criatividade. Em teoria, isto pode dar azo a contradição ou até antagonismo. Mas não vivemos tempos teóricos, e o Mago está demasiado focado no concreto para se perder em discussões elevadas. Na verdade, o que agora temos que ser capazes é de, em tempos de Hierofante, com os valores colectivos a imporem-se sem qualquer margem de dúvida, cada um de nós ser capaz de activar o Mago que traz dentro de si para descobrir e implementar soluções.
Isto é válido para todos e pede-nos mobilização pessoal. A versatilidade do Mago permite-lhe que aceite, em nome de interesses superiores, que os limites impostos pelos valores colectivos do Hierofante sejam respeitados, mas… o Mago não se limita a cumprir, não. O Mago encontra o seu lugar único e criativo, mesmo quando está integrado num colectivo. Respeitando a regra e elevando a moral (bem que precisamos de valores morais, quando a maldade ataca por todos os lados), o Mago inventa, improvisa, comunica.
Conformamo-nos, porque juntos somos mais fortes. Mas cada um tem que ser poderoso e interventivo, trazendo ao colectivo a sua contribuição única e pessoal.
Imagem : Ostara Tarot, de Morgan Applejohn, Julia Iredale, Krista Gibbard e Eden Cooke, 2017
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